Luzes apagadas, um ventilador negro ligado no fraco, alternando as direções, janela aberta, noite vamos lá.
Reparar isto não é para qualquer um, pelo que penso.
Você vê vultos, vê o fio da persiana se movimentar com o assopro do vento do ventilador, sente-o.
E o telefone toca.
Você vai atender, é forçoso olhar para os lados, para os vultos que a pouca claridade proporciona. Anda, pega o telefone, e atende um cara perguntando: "Você não vai brigar comigo só porque eu te liguei não né?" Daí você conversa ao telefone e digita ao mesmo tempo este mini-texto.
Desligue, coce, respire, blá.
Ajeite o cabelo, pisque os olhos.
Preoucupe-se com o português no "Ajeite", se não seria "Ageite".
Sinta sempre o passar do vento do ventilador, com um ruído bem baixo.
Converse sobre café, amor, sem se quer falar nada.
Isso tudo em pouco tempo, e repare, sem olhar, a bandeira do time do seu coração ao lado da tela do computador se movimentando pelo ventilador.
Pois é. Tudo em torno do Ventilador.
Você está começando a achar que o ventilador é Deus.
E se for? Devo eu discutir sobre ele?
Será que ele está movimentando algo mais?
Talvez seu cabelo, que cai pelas costas corcundas de tanto ficar defronte à tela, sedentárias.
Dê dois "Enter" no teclado, isso torna mais agradável a leitura.
Um cara agora declara-se totalmente louco, você ri sem rir. Magnífico. Por que agora você não está pensando em algum game? Ou lendo algum livro? Ou mesmo conversando com a menina que você está apaixonado? Será que é porque Deus não quer isto agora? Será que é porque o Ventilador não quer?
Você não sabe, então disse foda-se.
É tudo real mas nunca olhou nada em outro foco.
Pois é, esse relato não foi a vida, mas um instante da vida, que resume à vida inteira, quem sabe?
Então, pensa em finalizar isto tudo, dar o ar da graça, e erra (pensa agora em que escrever, coça o peito e a bochecha, olha ao lado a porta com uma sombra que lhe arrepia) graficamente quase tudo que escreve, inclusive a palavra "inclusive".
Pensa em uma música de um grupo de rap, e meche o nariz.
Pois é. Se for para retratar de tudo que se passa neste instante em que está se passando, não terminaria por aqui. Forço-lhe lembrar que está fazendo nada de mais, e que tudo é real.
Estranho, não é. De fato não é estranho.
Olhe a santa ao lado do computador, pense em que mais vai escrever.
Olhe, tudo lá fora está parado. E dentro de seu apartamento, a bandeira, seu cabelo, o fio da perciana, se movimentando por causa do ventilador.
O que vai fazer agora?
Esperar para morrer, de fato.
Não, agora você vai ver na tela de seu computador a imagem ao vivo de sua pessoa amada.
Pronto, a razão de viver sua, é essa.
Talvez não, o que tenho a afirmar?
E continua a sentir o ventilador, ligue um som alto, e pronto!
ou não.
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