"VOCÊ NÃO QUER VER, NÃO QUER ESCUTAR E MUITO MENOS FALAR"
Pesquise no blog:
Insira uma palavra-chave:
«Se VOTAR mudasse alguma coisa, o VOTO já teria sido banido.»
Emma Goldman

quarta-feira, 28 de outubro de 2009

abalações sísmicas[áticas]

[sinos tocando abalam a igreja]

[sons de alta frequencia não quase inescutados pela igreja, agonizado absolutamente tudo]

clamações por socorro se manifestam fervorosamente, gargantas queimam os ouvidos com ruídos quentes e altos de prazer, não há sequer um lúcido na brincadeira, há tentativas-falhas-de-lucidez, uma vez que não existe lucidez, sim virtudes morais colectivas. O espanto do marginalismo pasma absolutamente todos que não compreendem os sinos.

[sinos sísmicos continuam a abalar a igreja]

terça-feira, 27 de outubro de 2009

malditoooooooooooooooo

tento manifestar o odio
mas nao da
ainda mais pelo que mais sinto odio
isso e a invenção de outros
que sinto tanto odio
oh santa merda

mojavila ca ra ca [torções de sons altos]


a desmatação da selva cinza
a desnutrição das feras coloridas
tornam mais nítidas e mais acostumativas
mais dançantes
dança-te para não cair
sinta-te prazer ou morra-te de tantas exclamações, autoritariações imperativações
esquecendo de tudo isso
mergulha, então, na pseudocoisaboa que é a relação social
haha, sorria, estás tendo medo por ti mesmo
és fraca, és fraco, sois machucados
matam-se enquanto gozo-me em -me.

Haha, amanha não tem chuva, já diziam os mutantes.
a principio sua vida nao tem nada a
ver com o que aqui condiz esta
merda toda, mas se tua vida é - É -
uma merda toda também não
tem a ver camaradas!

segunda-feira, 21 de setembro de 2009

Globo x IURD - Duas faces da mesma moeda

Podemos perceber a briga entre a Rede Globo e a Igreja Universal do Reino de Deus.

De um lado a Globo, maior detentora dos meios de comunicação no Brasil, terceira maior emissora de televisão do mundo, que é tradicionalmente nossa inimiga, em virtude da intensa manipulação do povo, com isso mantendo o povo estagnado, apático, totalmente desinteressado pelos problemas sociais, políticos e econômicos. Isso explica-se pela grande influência que a empresa tem nas relações de poder do país, o que não lhe agrada, logo então deturpa e minuciosamente repassa à população da maneira que condiz com seus interesses, orientando, em geral, toda a opinião massificada dos telespectadores.

De outro lado, a Igreja Universal, que, por ser uma Igreja, já também é tradicionalmente inimiga de nós anarquistas, pois sabemos (quem desconsidera a história está sujeito a repití-la) que em toda a história da humandade depois de Cristo, a instituição Igreja vem explorando, abusando, torturando, matando, oprimindo e submetendo o homem para manter o domínio das massas, com a desculpa de fé. Vale ressaltar que não repudiamos a religiosidade individual, ou seja, a crença de cada um, cada pessoa tem a liberdade de acreditar em que quiser, mas, sim, repudiamos fevorosamente a Igreja, e, independentemente de ser Católica ou Igreja Universal, têm os mesmos objetivos, enriquecimento às custas dos fiéis e conservação do poder sobre estes.

A Igreja Universal vem revivendo a história da Católica, principalmente no que toca à:

• compra de indulgências: antigamente tática usada pela Católica, e aperfeiçoada pela IURD com a intensa pressão psicológica que fazem com os fiéis nos ditos "encontros", que induz aos fiéis estarem sempre doando dinheiro para a igreja, com várias desculpas esfarrapadas;

• e à Inqusição: antigamente usado pela Católica, que a IURD aperfeiçoara também para o campo psicológico, algo muito bem estudado e aplicado, fazendo que o fiel sinta-se excluído quando não dá dinheiro para a igreja; o próprio fiel sente desprezado quando não participa de todas as ações que acontecem dentro da igreja, então é forçado - além da desculpa da salvação eterna, dita em outras palavras - à sempre estar doando dinheiro. Passagens bíblicas também são usadas tendenciosamente aos objetivos da igreja, tirando de um contexto em que se achara na bíblia para usar em outro contexto totalmente diferente - algo relacionado com servir e salvação: servir a igreja, salvação de Deus - deturpando a ideia original. Como foi dito, é todo um jogo psicológico que afeta o fiel e que não deixa claro diretamente a manipulação dos fiéis - superficialmente analisando, que é geralmente é como todos analisam, não percebe-se essa relação com a então Inquisição Católica - antes matava-se quem não servia a Igreja Católica; hoje pressiona-se psicologicamente - até porque, pela moral já desenvolvida pela sociedade, matar não seria o melhor método de manutenção de poder da igreja -o fiel, inquietando-o e forçando-o à servir a Igreja como todos fazem (vale lembrar que existem excessões em quaisquer casos, sejamos realistas, não são todos os fiéis que caem neste jogo);

Desde a década de 90 existe uma rincha entre a Globo e a IURD, com a Globo divulgando as falcatruas realizadas pelos bispos e pastores da igreja que roubam milhões do povo e a IURD denunciando a falta de imparcialidade, manipualação e participações da emissora com crimes políticos. Para nós, anarquistas, essa briga tem ótimos resultados, mas também trás instabilidade na população que é manipualada por estes monopólios. Analisaremos.

Dos dois lados saem informações importantíssimas que serviriam, a princípio, para simplesmente denunciar as falcatruas das mega-empresas aqui relatadas, conscientizando o povo e este manter-se distante das manipulações. Mas, é evidente, esta briga envolve grandes ambições econômicas, e, como de costume, as informações são distorcidas para tentarem trazer o público ao seu lado - tanto Globo quanto IURD -. Então esta briga não é inteiramente boa para nós; devemos usá-la quando um tenta derrubar o outro, e devemos também mostrar que nenhuma das instituições presta, que repudiar a Globo não implica em não repudiar a IURD, e vice-versa.

Em suma, para concluir, essa briga dá-se principalmente na disputa entre Globo x Record - emissora do Edir Macedo, hipócrita dono da IURD - e disputa política - é lógico que existem interesses políticos por trás disto, que existem deputados, senadores que estão tanto de um lado, quanto de outro -.

Nosso recado ao trabalhador é que esteja atento às informações divulgadas de ambos os lados, pense, critique, e não caia na manipulação de nenhum lado, pelo contrário, lute contra eles, lute contra a Globo, a Universal, a Record e todos os politiqueiros sanguessugas, tanto os que estão envolvidos quanto os que não estão.

Análise sobre a copa do mundo: não é radicalismo, é realidade

Copa do mundo de 2014 no Brasil! Viva, que emoção, poderei ver os melhores do mundo jogarem, disputarem a sonhada taça de ouro, e torcermos para que nossa Seleção Brasileira, que já conquistou 5 vezes, conquiste a sexta! É, muito bom para ser verdade...

O auê realizado pela escolha da sede da copa do mundo ser o Brasil provocou - como de costume, absolutamente em tudo, inclusive nisto, existe um imenso sensacionalismo - certo êxtase e empolgação precoce na população, impedindo esta de analisar minuciosamente cada decisão de âmbito social que o Estado toma, e isto pode estar mascarando casos graves de injustiça social. É isso que vamos expor aqui. Então, antes de tudo, colocaremos nossos pés no chão e vamos pensar bem antes de ficarmos felizes precocemente.

A copa do mundo trás como consequencia, isto está mais que evidente, a reforma, e até reconstrução de estádios para realizarem as partidas. Os projetos são os mais variados, e a população se embreaga nas plantas dos novos estádios, achando tudo muito bom e bonito. Calma lá, vale ressaltar que o dinheiro que provém para as construções é dinheiro público, ou seja, os milhões, bilhões de reforma de estádio, é o dinheiro que vem do teu esforço, trabalhadora e trabalhador, e poderiam - aliás, DEVERIAM - ser investidos em educação, saúde e moradia! Educação, saúde e moradia são, meu povo, você que sente nas costas, você que paga para RECEBER, muito mais importantes para nossa sobrevivência, para nossa harmonia, establidade social e diminuição de desigualdade, que uma copa do mundo, não acha?

Além do mais, você acha que o valor do ingresso será assessível à um operário, para você, que sustenta o país nas costas, tanto no campo econômico quanto no campo industrial? É evidente que não, o preço estará assessível somente aos ricos, àqueles que, na imensa maioria das vezes, são quem sonega impostos! Ou seja, a reforma do estádio é bancada por você, trabalhador, e quem desfrutará dos espetáculos e das partidas será a classe rica!

E também sabemos que as ruas, praças, enfim, toda a cidade será "modernizada", o investimento na estética das cidades também será gigantesco, pois temos que aparecer para o exterior como um país em desenvolvimento, as evidências da intensa desigualdade hão de ser reduzidas, e muito! Mas, com esta nossa análise, podemos dizer, convictos, que a desigualdade é MUITO maior!

O Estado irá criar - e está criando, acredite! - e manter na copa uma máscara social totalmente hipócrita, mais uma vez ignorando o povo, sustentando, como sempre, a segregação social.

REPÚDIO À COPA DE 2014 E AOS ABSURDOS "INVESTIMENTOS" FÚTEIS DO ESTADO COM O DINHEIRO PÚBLICO PARA SUSTENTAR A CLASSE DOMINANTE!

Instabilidades na América Latina! Bases militares dos EUA, mísseis venezuelanos e petróleo brasileiro

EUA está investindo pesado na base militar Palanquero, na Colômbia, com a então desculpa de combater o narcotráfico. Que babozeira!

Quem não lembra do ataque ao Iraque e ao Afeganistão, nesta nossa década mesmo, com desculpa de combater os regimes totalitários dos países e de intervenção aos supostos "investimentos em armas nucleares" destes países? O que se sucedeu? O EUA queria mesmo era exercer mais influência na região, pois é onde existe mais petróleo até então no mundo inteiro. Quem desconsidera a história está apta a repití-la.

E também não foi somente isso que os EUA fizeram como desculpa para invadir países, podemos também lembrar o 11 de setembro, o qual há fortes evidências que as torres gêmeas foram implodidas pelo governo estadunidense para servir de desculpa para, também, invadir o oriente médio!

Agora vem nosso querido Obama fortificar bases militares na Colômbia como alternativa de combater o narcotráfico? Ora ora ora, basta!

Essas bases criaram uma instabilidade na região, e, serve também de desculpas, para Hugo Chávez, na Venezuela, investir em mísseis russos de alcance de 300 quilômetros!

"Em breve alguns foguetinhos estarão chegando. E eles não falham" diz Chávez, que, também diz que os mísseis servirão de defesa nacional. Vale ressaltar também que, em novembro, Rússia e Venezuela realizarão exercícios militares conjuntos no Mar do Caribe.

Enquanto isso o presidente Lula apenas disse “A mim não agrada outra base militar na Colômbia”.

Além de tudo, também devemos ficar espertos em relação à gigante reserva de petróleo descoberta em águas brasileiras. Obama já chamou Lula de "você é o cara!", Lula é diplomaticamente amigo de Chávez, e, além destas bases militares, essa questão do petróleo tem de ser também acompanhada com muita atenção.

Instabilidades na américa latina. Que fiquemos, nós, o povo, atentos! Os ricos estão lutando "diplomaticamente" pelas suas regalias e por poder, enquanto somos mal tratados no trabalho, recebemos salário miserável e somos constantemente roubados pelos políticos!

Ação popular já! Fora Obama da Colômbia!

domingo, 23 de agosto de 2009

Raul Seixas, te amo!

Em qualquer lugar ela esperava por ele. Sim, provou o gosto estranho, que tanto não desejava ao mesmo passo que queria, do beijo dela, que tanto detesta ao mesmo passo que tanto lhe ama! Demore, demore! Poderia demorar mais 20 anos, para que hoje eu possa também, quem sabe, ao menos teria oportunidade, de também poder vê-lo, poder, ao menos, despedir pela última vez, mesmo que seja somente uma vez.

Será que ela esperou seu último copo de wiskey, dom RaulziJustificarto?

Caso sim, caso não, dia 21 de agosto de 1989, a Morte, que matas o gato, o rato, matou o homem. Garanto que, o segredo desta vida, vestiu com a mais bela roupa, vestida de Cetim, quando lhe buscou.

Raul, teu corpo fora cremado tal como sua inteligência fora eternizada; suas cinzas alimentaram a erva, tal como tuas músicas enlouqueceram e alimentaram outro homem como você.

Raul Santos Seixas, arrepio com cada palavra pronunciada por sua boca. Por detrás de tuas palavras, não somente palavras, existe todo um sentimento boêmio, inteligente, embreagado, sarcástico, audácio, revolucionário, delirante e apaixonador. Tua voz é sinônimo de extase sentimental; tua inteligencia é estimulante para entender, entender, não decorar, teus pensamentos e podermos, depois, estarmos cantando junto com você, mesmo fisicamente distante de nós.

Escuto tua voz e sinto um sentimento único, inexplicável, como se você fosse bastante ínitmo à mim; você me completa por excelência. Sinto que você diz um segredo para mim, de louco para louco, de bêbado para bêbado, e, tão audácio, consegue declamar e dissertar absolutamente tudo aquilo que pensa e deseja dizer baseando nas maiores e mais escandalosas manifestações de tua inteligência para meu humilde poder de raciocínio compreender.

"[i]e que a erva alimente outro homem, como eu[/i]", ah, se eu pudesse gritar, gritaria! Ou até mesmo representar um sentimento explêndido de qualquer forma, representaria! Estudo-te e sinto um orgasmo mental, em, além de compreender-te, lhe conhecer cada vez mais, e, cada vez mais, saber que és tão humilde!

Converso com ti mesmo sabendo que não posso te ver mais, digo, nunca pude, tampouco pude conversar! Mas o sentimento de intimidade é tamanho, que sinto essa relação direta!

Nunca lhe vi, lhe conheci 18 anos depois de sua morte. Completa-se, então, 20 anos da ausência física de ti, dom raulzito.

Faça, agora, com 20 anos onde estás, o mesmo que fez aqui e CONTINUA fazendo. Revolucione.

quinta-feira, 13 de agosto de 2009

Indústria do Medo

Métodos coercivos bem nítidos; Inquisição; "os bárbaros irão saquear as cidades, fujam!", então, logo procura-se um feudo onde haja segurança e, mesmo que gaste todos os esforços trabalhando pelo enriquecimento do senhor feudal, há a garantia de vida e, mesmo que podre, há a alimentação; "Cuidado ao pensar em malícias demoníacas sexuais, homem, a mulher é o pecado! Almeje-a e o inferno lhe aguarda!"; feminino, palavra que significa pouca fé, ou seja, mulher, objeto de perdição diante de Deus; etc. Sim, digo-lhe sobre a Idade Média.

Homicídios, roubos, furtos, esquartejamentos, sequestros, ganância. Há quem diga que é um resumo daquilo que ocorre nos dias de hoje, todavia não passa de uma declaração extremamente completa e objetiva.

Qual a semelhança? Embora ações diferentes, há, por trás de tudo, um sentimento único, que possibilita toda a conservação social. O medo.

A indústria mais antiga é a Indústria do Medo, onde criam mecanismos capazes de exercerem um gigante controle sobre toda a população mantendo a "ordem", que, aparentemente, é mantida pelas leis. Há mais de 1000 anos fora criada. Nunca mais fora destruída por completo, apenas modificada e com sempre novos conhecimentos agregados.

Estes mecanismos avançados, na Idade Média, eram mantidas pelas elites, dentre os quais engenheiros eram o Clero (Igreja Católica), a nobreza e os senhores feudais, com o objetivo de manter conservado o servo em suas respectiva posição social. Existia todo um trabalho pré-estabelecido, tal como qualquer máquina, que estava encarregadi de deturpar ideias cristãs e criar novos valores morais para o mantimento da ordem social.

Por via das dúvidas, os grandes engenheiros desta gigante fábrica criaram um mecanismo especial para repor alguns erros de fabricação na área responsável pela introdução dogmática e doutrinária sobre os servos: a Inquisição. Erros os quais eram considerados "pecado", algo que, caso a máquina detectasse, aquele servo teria seu destino traçado ao fogo, elemento programado como "purificador" diante das Escrituras.

Mas que fantástico! A Indústria do Medo estava programada para realizar, vezes ou outras, tais erros, pois, faziam parte do mantimento do objetivo central da indústria, o temor! Apenas com a ação e a realização da punição que o temor se estabeleceria diante do povo, então, que façamos sofrer! Então, que façamos pecar!

Há nesta fábrica também uma área, criada, logicamente, e quase que exclusivamente, pelos senhores feudais, que era responsável pela produção e reprodução periódica de saques e assassinatos de um povo dito "inferior", cujo nome haveria de ser bastante sugestivo, Bárbaros! Ah, mas que desgraça! Homens inferiores enlouquecidos e sádicos atacando cruelmente as populações nas cidades! Agora, a função é levar mais e mais pessoas receosas aos feudos, para ali obterem segurança e, todavia, trabalhar exaustivamente àquele que lhe concebe segurança. Mais uma peça prefeita da fantástica fábrica de 1000 anos.

Devemos recordar da máquina responsável pela criação do pecado diante do pensamento humano, tal como pensar em sexo? Aliás, aqui já acabamos de lembrar. Tocais, ou mesmo, pensastes em mulher, sexo, que será queimado e terá como destino o inferno!

Mas esta fábrica, com mais outros milhares de recursos de variadas escalas e importâncias dentro da conservação do medo, como já foi dito, sofre alterações, e, às vezes é violentamente atacada. Mas qual será o motivo dos ataques? Se fora violentamente atacada mais de uma vez, porque não se destruiu? Será o erro da fábrica? Mas não é perfeita?

Erro da fábrica!? Nunca. Mas erro de quem a mantém. Se, neste espaço histórico fora o Clero (Igreja Católica), a nobreza e os senhores feudais aqueles encarregados de lhe manter, sim, a culpa fora deles. Administração de um gigantesco e complexo mecanismo como este, realmente, não é fácil, mesmo este podendo suprir-se até com seus próprios erros.

A fábrica se destruir? A fábrica se alimenta de seus erros como também se alimenta da queda dos seus respectivos administradores. É uma fábrica, uma indústria do medo, e, com a reação de pessoas que lhe foram alvo àqueles que lhe administram, nasce, pois, o medo; o medo, sentimento que faz nascer o poder e o controle; faz nascer o medo naqueles que administram.

O medo criado àqueles administradores é sim capaz de reverter a situação social hierárquica e fazer aqueles então alvos tornarem então os controladores. Porém estes não têm noção, inteligência, tampouco capacidade de gerir uma indústria como esta. O que então se sucede? A queda dos administradores. Eis que vem, então, os melhores capacitados, agora experientes em virtude da última queda, e tomam-lhe a gestão, a administração. Nasce um novo ciclo, com novas peças, novos planos, nova organização, mas mesmo objetivo: fazer reinar o medo.

Nos nossos tempos, milênio e séculos de existência da indústria, depois de vários administradores que caíram, estamos-nos aqui, com uma novidade: quem gere, quem organiza e administra a indústria, é o próprio alvo.

Absolutamente todas as classes sociais, todas as pessoas, absolutamente toda a população vive sob medo e tensão, e, estas mesmas, como administradoras, criam mecanismos para se aconchegarem, se acostumarem como podem nesta realidade.

Agora sim podemos dizer que não haverá mais alternância de gestão? Agora sim, poderemos, com certeza, dizer que chegamos no nível máximo de alcance dos objetivos da indústria? Não podemos dizer nada. Oras, vivemos pela indústria, decisões e pensamentos nossos são produtos da indústria. Não comandamos a indústria; a indústria nos comanda. O medo nos gere. O medo nos torna apáticos, sem vontade e coragem para tomar alguma, qualquer que seja, atitude.

Medo mascarado de ordem e organização social, controle e opressão mascarados de segurança.

Um Pouco Sobre Comunismo Libertário - Resumo Introdutório

Consideramos, pois, um texto bastante resumido sobre o tema. Logo, as informações aqui presentes não são únicas e todas que se podem obter sobre o assunto.

Comunismo (ou mesmo socialismo, que aliás, melhor se aplica aqui) libertário é a vertente anarquista da tradicional esquerda proletária, compreendendo-se como tradicional esquerda proletária o real socialismo nascido na primeira metade do século XIX com a ascensão do industrialismo e do pensamento liberal e capitalista burguês.

Apartir de então, os trabalhadores, extremamente humilhados e explorados nas fábricas, algo, digamos, "novo" para o ser humano, com seu primeiro contato com as fábricas e as consequencias do ideal burguês, se rebelaram e começaram a defender a sobrevivência de sua classe e também os anseios coletivos.

Nasceu, logo, o socialismo, ideal trabalhador que visava a socialização dos meios de produção, tornando-os posse de todos os trabalhadores, para pôr fim à exploração do patrão e das desigualdades sociais. Já no final da primeira metade e início da segunda metade do século XIX, Karl Marx, um tradicional socialista, chegou à conclusão que era necessário para a emancipação proletária os trabalhadores tomarem o Estado e fazer deste arma para a revolução. O objetivo então obteve o nome de "comunismo", e a transição, fase estatal, "socialismo".

Alguns muitos socialistas discordaram das teses marxistas e, então, desenvolveram o socialismo libertário, com os mesmos objetivos, porém sem a intevernção estatal, considerando isto não mais uma arma revolucionária, pelo contrário, um grande obstáculo para a emancipação.

Com o decorrer do tempo, o ideal socialista marxista, ou mesmo apenas socialista, fora aplicado no campo reformista, isto é, muitos socialistas passaram a acreditar que a conquista do Estado seria mais viável por via das eleições, distanciando-se mais ainda com o ideal revolucionário. Apartir de então, muitos oportunistas declararam-se socialistas apenas para lutar pelo poder politiqueiro.

E, enquanto isso, como não poderia ser corrompido por gananciosos, em virtude de não ter nenhuma relação com poder, o socialismo libertário continuou com a luta proletária (isso não implica que o socialismo marxista não tenha continuado também com a luta proletária), porém com ideais de liberdade, autogestão e democracia direta como base a horizontalidade (sem nenhum nível hierárquico).

Desde o final do século XIX até os dias de hoje, com as tentativas de prática socialista marxista, tal como URSS, Cuba, Espanha (mesmo este não sendo um país de grande movimentação socialista marxista) e até mesmo no Brasil com o PCB, os então líderes socialistas oprimiram bastante os libertários, atacando-os violentamente oprimindo e desestruturando o movimento operário anarquista. Na URSS Trotsky, Lênin e Stálin tiveram (ao menos) este ponto em comum, oprimir o exército makhnovista do sul do país; Em Cuba, ao tomar o poder, Fidel iniciou uma dura represália ao então fortíssimo movimento operário socialista libertário; na Espanha os marxistas estavam no poder com uma política instável e vulnerável à ataques reacionários e fascistas de Franco, então os anarquistas (mais de um milhão de operários) tomaram as fábricas e várias cidades espanholas implantando a autogestão com receio de Franco atacar, o que aconteceu e resistiram mais de um ano (em meio à autogestão operária resistiram ao fascismo, nazismo, capitalismo, Igreja e ao socialismo da URSS); no Brasil, o maior movimento operário, desde seu início até a década de 30 era o anarcossindicalismo, quando, com a criação do PCB e o nascimento do Estado Novo fora oprimido violentamente tornando-se totalmente fraco; dentre outros fatos.

quinta-feira, 23 de julho de 2009

Anarco-capitalismo não é anarquismo

Dizem que o anarco-capitalismo é vertente do anarquismo, e que, quando nós, anarquistas, inimigos do Estado e do capitalismo, que lutamos em prol do proletário, quando negamos esta afirmação, queremos monopolizar o anarquismo. Será isso verdade?

O anarquismo nasceu do seio proletário, DA ESQUERDA, do socialismo antes de 1848, antes da Comuna de Paris, que tinha visões de luta totalmente diferentes das socialistas atuais, porém fins, objetivos, os mesmos (digamos assim, descartando a "pelegagem" atual no seio esquerdista), os quais eram: emancipação do proletário, organização autogestionária, FIM DA PROPRIEDADE PRIVADA tendo consequencias o fim das classes sociais, economia organizada pelos trabalhadores, etc.

Porém, como foi dito, depois da comuna de paris, do manifesto comunista de 1848 (Karl Marx), nasceu a noção de "comunismo" (segunda fase e objetivo revolucionário baseado na revolução socialista marxista) e o socialismo difundiu-se em duas vertentes: o socialismo marxista e o socialismo/comunismo libertário, ou mesmo ANARQUISMO.

O socialismo marxista, como estamos cansados de saber, é dividido em partes para realizar a emancipação proletária (socialismo - Estado proletário - e comunismo - dissolução das classes, propriedade privada, etc.). O socialismo/comunismo libertário, ou mesmo anarquismo, nega esta fase transitória estatal, MAS CONTINUA COM OS MESMOS OBJETIVOS DE ANTES.

Como no anarquismo pode-se existir propriedade privada, economia liberal, e estas tralhas burguesas?

Então poderia existir comunismo capitalista?

Anarco-capitalismo é vertente do CAPITALISMO, um capitalismo sem Estado. Nada mais. Negar o Estado não implica ser anarquista, mas sim LIBERTÁRIO.

quinta-feira, 11 de junho de 2009

Projeto de Bases de Acordo para Formação de Núcleos Libertários

JustificarDocumento 6 - Retirado de: Documentos Sobre o Anarquismo - Edgar Rodrigues

Projeto de Bases de Acordo para Formação de Núcleos Libertários

Declaração de Princípios

Considerando que a situação dos trabalhadores e dos camponeses na sociedade capitalista será sempre de miséria e exploração enquanto existir a burguesia e o Estado;

Considerando que nenhuma tutela estranha libertará os oprimidos da cidade e do campo dos parasitas que vivem do seu esforço nem dos burocratas e governantes que lhes impõem a sua vontade;

Considerando que todos os partidos políticos, sem excepção, não são outra coisa mais que engrenagens da máquina religiosa-capitalista e governamental que tritura os verdadeiros produtores da riqueza social usurpada pelos seus representantes;
Os companheiros de ..................Reunidos no dia......de...................... resolvem:
Deixar constituído, por decisão unânime dos seus componentes, o grupo (ou núcleo) com o nome de.................................
Este grupo se propõe a:

1º - Consagrar pela auto-educação e recíproca influência dos seus membros a mais firme e maior capacitação de todos e de cada um dos seus componentes.

2º - Trabalhar no sentido de que o nosso pequeno núcleo se converta em um centro de irradiação de uma intensa e perseverante propaganda tendente à elevação intelectual e moral dos trabalhadores e de todas as pessoas, sem distinção de sexo nem condição social, que se interessem por sua cultura, pela sua dignidade e pela emancipação de todos os oprimidos.

3º - Propiciar a luta espontânea e desinteressada de todos os espíritos livres contra o obscurantismo religioso, contra a exploração capitalista e contra a opressão governamental.

4º - Propagar incessantemente pela palavra, pela escrita e pela associação de vontade, na luta contra as instituições do Estado e contra as rapinas do capital, uma sociedade harmônica e solidária edificada pela livre inteligência dos produtores, uma vez destruídas as instituições burguesas e o Estado em qualquer das suas formas e com qualquer denominação.

O capitalismo está baseado numa injustiça histórica; a propriedade privada, o roubo, em proveito de uns poucos, da riqueza social. O Estado é cimentado numa monstruosidade secular; a dominação do homem pelo homem, a anulação da personalidade humana, o desconhecimento da vontade individual.

O Estado, qualquer que seja a sua forma e o seu nome é um conjunto de instituições violentas cuja missão é defender o capitalismo ou expropriar a este em benefício das castas governantes.

Em qualquer dos casos a condição dos povos será sempre idêntica: render o duplo tributo de obediência e de trabalho.

É por isso que nos declaramos inimigos de todo parasitismo, tanto no aspecto religioso como no aspecto econômico e social. Desconhecemos e declaramos como oportunismo politiqueiro toda e qualquer propaganda que, em nome da palavra "socialismo" e de "comunismo", tenda a servir-se dos operários e camponeses como rebanho eleitoral. A nossa finalidade imediata é bem clara e precisa; lutar unidos com todas as boas vontades contra a injustiça social e procurar a superação incessante pela elevação dos sentimentos e conhecimentos de seus deveres e direitos em cada membro da sociedade.

Fins

Tendo em vista a necessidade que há de articular a obra de propaganda libertária, este grupo se propõe:

a)- Promover, por todas as formas, a divulgação de jornais, livros e folhetos em geral.

b)- Para isso o grupo procurará reunir as pessoas que tenham afinidades ideológicas, promovendo e auxiliando a união de todos os elementos libertários em núcleos de afinidades, mantendo entre si os laços de solidariedade.

c)- Tomará iniciativas referentes à convocação de reuniões públicas e privadas, conferências e outros atos de propaganda, que procurará elevar as localidades vizinhas, auxiliando, quando necessário a organização de grupos afins em todas as partes onde possam atuar os seus componentes.

d)- Deverá quando possível, fundar uma biblioteca de estudos sociais, entrando em relações de grupos, centros operários, jornais, etc., no sentido de obter os meios necessários a esse fim.

e)- Deverá, sempre que possa, promover a organização dos trabalhadores em sindicatos de ofícios vários, e tomará parte direta nas organizações de outras tendências, quer sejam reformistas, sindicalistas ou beneficentes, procurando fazer com que as mesmas se orientem pelos métodos de ação direta na luta contra o Estado e o Capital.

Da Administração

O grupo será administrado por:

a)- Um secretário de correspondência, a quem cabe corresponder-se com os jornais e outros núcleos afins.

b)- Um tesoureiro, a quem cabe arrecadar e remeter ou pagar os jornais, impressos e outras despesas.

c)- Um bibliotecário a quem cabe auxiliar os primeiros e esforçar-se pela aquisição de livros, folhetos e jornais libertários, sociológicos e educativos.

Parágrafo Único - O grupo não se dissolverá enquanto existirem três membros que se disponham a mantê-lo com a mesma orientação.

segunda-feira, 18 de maio de 2009

RESPONSABILIDADE, COMPROMETIMENTO E AUTODISCIPLINA

Retirado de: Libera - No. 137 - Ano 17 - JAN-JUN/2007 - FARJ - Federação Anarquista do Rio de Janeiro

A questão da responsabilidade, do comprometimento e da autodisciplina é motivo de debate
e de divergências no chamado “meio libertário”. Desenvolvemos nas próximas linhas, um pouco do que pensamos sobre isso, colocando nossas posições. Ideal Peres, já há algum tempo, afirmou: “Um sujeito que tem uma Ética Libertária sabe por que está lutando e consegue explicar os motivos ideológicos da luta, tem compromissos e autodisciplina para levar a cabo as tarefas assumidas”.

Ele expressou, em uma só frase, uma série de opiniões de suma importância para nós. Enfatizava ele, antes de tudo, uma importância da consciência do militante com relação aos motivos da luta. O militante anarquista é um sujeito que participaativamente de todas as discussões que se dão no âmbito da organização e conhece o contexto em que está lutando. Dele, espera-se que se nvolva com as discussões que acontecem, colocando-se, discutindo as melhores saídas para as questões apresentadas e interferindo nos rumos táticos e estratégicos adotados pela organização. É por isso que todos os militantes devem ter a clareza do por que se luta, contra o quê se luta e em favor de quê se luta.

Quando Ideal Peres falava de compromisso e autodisciplina, ele dizia fundamentalmente um compromisso individual para com as decisões coletivas. Mas como funciona isso? É muito comum em organizações que se dizem horizontais e apartidárias, um descompromisso muito grande dos militantes com relação às questões de compromisso e autodisciplina. Um exemplo disso é a grande quantidade de pessoas que freqüentam reuniões (de grupos que são relativamente abertos), dando opiniões sobre assuntos que desconhecem ou assumindo responsabilidades, sabendo que poderão não cumpri-las. É muito comum que essas pessoas não mais apareçam nas próximas reuniões e nem cumpram com aquilo que prometeram, alegando que não puderam, por um motivo ou por outro, ou nem mesmo dando satisfação ao coletivo.

O pior de tudo é que muitas dessas pessoas, ao serem cobradas, sentem-se ainda vítimas de algum tipo de autoritarismo. Para nós, o que acontece é que há uma inversão de valores ao se julgar determinado tipo de comportamento em que o autoritário – ou seja, aquele que se comprometeu com algo perante o coletivo e não cumpre – julga-se vítima do autoritarismo.

O “compromisso e a autodisciplina para levar a cabo as tarefas assumidas” ressaltados por Ideal Peres fogem radicalmente do modelo apresentado acima. Neste tipo de atitude de compromisso e autodisciplina, concordamos com Ideal que, dentro da organização, deve haver um grande espaço para todas as discussões e todos os pontos de vista devem ser analisados com todo o cuidado e, como dissemos acima, ter o mesmo “peso” nas tomadas de decisão da organização.

Nessas reuniões, são deliberadas todas as atividades que a organização fará, o que significa dizer que seus membros as realizarão. Afi nal, a organização não faz nada por si só. Ela não tem cérebro, braços e pernas para poder executar as atividades que são deliberadas em seu seio. É por isso que todas as atividades que se deliberar e que forem de responsabilidade da organização terão, de um jeito ou de outro, de ser executadas pelos seus membros. Era sobre isso que Bakunin se posicionava, ainda no século 19, discutindo a questão da disciplina:

“[...] certa disciplina, não automática, mas voluntária e refl etida, estando perfeitamente em cordo com a liberdade dos indivíduos, foi e será necessária, sempre que muitos indivíduos, livremente unidos, empreendam um trabalho ou uma ação coletiva qualquer. Esta disciplina não é mais do que a concordância voluntária e refletida de todos os esforços individuais para um fim comum. No momento da ação, no meio da luta, os papéis dividem-se naturalmente, de acordo com as aptidões de cada um, apreciadas e julgadas por toda a coletividade: uns dirigem e ordenam, outros executam ordens. Mas nenhuma função se petrifi ca, nem se fixa e não fica irrevogavelmente ligada a qualquer pessoa.

Os níveis e a promoção hierárquica não existem, de modo que o comandante de ontem pode ser o subalterno de hoje.

Cabe aqui abrir um parêntese para dizer que, da mesma forma que não existe um “espírito da organização” que resolve problemas e que desenvolve as tarefas. É fundamental, no momento em que as decisões forem tomadas, que se dividam as responsabilidades, ficando os membros formalmente responsáveis por sua execução. Acreditamos na necessidade de se dividir as atividades entre os militantes, buscando sempre um modelo que distribua bem essas atividades e que fuja da concentração de tarefas sobre os membros mais ativos ou capazes. A partir do momento em que um militante assume uma ou mais tarefas para com a organização, ele tem a obrigação de realizá-la e uma grande responsabilidade perante o grupo com relação a essa(s) tarefa(s). É a relação de compromisso que o militante assume com a organização. Como as discussões no seio da organização são amplamente democráticas e ninguém assume as tarefas porque é obrigado, cada compromisso é um compromisso assumido por iniciativa do próprio militante, sendo de sua completa responsabilidade.

Não acreditamos que a cobrança, por parte da organização, das responsabilidades assumidas pelo militante seja algo autoritário. Ela deve existir e, se acontecer dessa irresponsabilidade ou falta de compromisso ser constante, deve haver uma conversa franca dos outros militantes com ele, a fi m de resolver a questão e não prejudicar os trabalhos da organização.

A autodisciplina é o motor da organização autogestionária. Como em uma organização desse tipo – o que é o nosso caso na FARJ – não há chefes que “cobram” os funcionários ou a base para a execução das tarefas, cada um que assume uma responsabilidade deve ter disciplina o suficiente para executá-la. Da mesma forma, quando a organização etermina uma linha a seguir ou algo a se realizar, é a disciplina individual que fará com que aquilo que se deliberou coletivamente se realize. Não deve haver necessidade de cobrança, pois se espera que cada um no grupo cobre-se para a realização das tarefas determinadas na organização, mas o indivíduo deve satisfação à organização, devendo informá-la do andamento das atividades sob sua responsabilidade e quando não as realizar, explicar ao coletivo o motivo, podendo ser cobrado por isso. Quando há problemas no andamento das atividades de um membro ou outro, a organização pode “cobrar” os responsáveis pelo andamento das atividades, também com o objetivo de não prejudicar os trabalhos e a luta. Obviamente que a forma dessa cobrança deve estar dentro dos critérios de respeito mútuo e da ética anarquista.

Errico Malatesta, ao discutir a questão da disciplina, em 1920, tratou-a da seguinte forma: “Disciplina: eis a grande palavra da qual se servem para paralisar a vontade dos trabalhadores conscientes. Nós também pedimos disciplina, porque, sem entendimento, sem coordenação dos esforçosde cada um para uma ação comum e simultânea, a vitória não é materialmente possível. Mas a disciplina não deve ser uma disciplina servil, uma devoção cega aos chefes, uma obediência àquele que sempre diz para não se mexer. A disciplina revolucionária é a coerência com as idéias aceitas, a fi delidade aos compromissos assumidos, é se sentir obrigado a partilhar o trabalho e os riscos com os companheiros de luta.”² (grifos nossos)

É relevante observarmos os comentários de Malatesta, concordando que essa disciplina e essa cobrança não devem seguir o modelo autoritário, tanto de opressão dos membros do grupo quanto pela forma dessas cobranças, que, conforme mencionamos, também devem considerar o respeito e a ética entre os membros do grupo. É uma grande preocupação diferenciarmos a autodisciplina que aqui pregamos da disciplina militar, exploratória e opressora em sua essência e que, de nosso ponto de vista, não segue rumos diferentes do que os outros autoritarismos que bem conhecemos.

Esses elementos, hoje e sempre, são fundamentais para a realização das atividades de qualquer organização que se diga séria e que tenha objetivos de transformação social. Ressaltamos que o nosso trabalho não pode ser algo que se dê pontualmente e que podemos fazer às vezes, quando nos der vontade. O compromisso que estabelecemos, como organização, exige que tenhamos responsabilidade pela constância de nossas ações. Isso muitas vezes é duro, pois as batalhas são, muitas vezes, perdidas. É a vontade e o compromisso militante que farão com que caminhemos dia após dia, para o desenvolvimento das atividades da organização e para que possamos superar os obstáculos e preparar terreno para nossos objetivos de longo prazo. É desta maneira que entendemos poder caminhar rumo à liberdade.

A FARJ busca fazer desses três elementos – responsabilidade, comprometimento e autodisciplina – fortes característica de nossa organização. Este artigo é uma versão reduzida de “Reflexões sobre o Comprometimento, a Responsabilidade e a Autodisciplina”, publicado em nossa revista Protesta!, número 4, de 2007.

Notas:

1 Mikhail Bakunin. Império Knuto-Germânico.
Retirado de Frank Mintz. Bakunin: críctica y acción.
Buenos Aires: Colección Utopia Libertária pp. 74-75.

2 Errico Malatesta. Anarquistas, Socialistas e Comunistas. São Paulo: Cortes p. 24.

domingo, 26 de abril de 2009

Panfleto do 1 de Maio

1º De Maio Em Belo Horizonte - MG


1º DE MAIO E JORNAL DA M.A.L. - 1ª EDIÇÃO SERÁ LANÇADA!

Em reunião realizada no dia 20 de março, discutimos sobre nossa ação no 1º de maio e ficou decidido que publicaremos a primeira edição de nosso jornal para ser distribuída gratuitamente. Seguem-se as devidas informações sobre a ação e sobre o jornal:

  • 1º DE MAIO

  • A MAL irá se dividir em dois grupos, os quais um seguirá na manifestação já organizada pelos sindicatos representando o movimento anarquista e o outro grupo se instalará na Praça Sete de Setembro realizando uma exposição de artigos históricos sobre o 1º de maio e o anarcossindicalismo.

  • Grupo que seguirá em manifestação
  • Os militantes levarão exemplares do jornal e as duas bandeiras da MAL. Que fique claro que não temos vínculo nenhum com os partidos políticos que lá estarão.


  • Grupo que fará a exposição histórica
  • A exposição começará às 08 horas sem - data para terminar - do dia 1º de maio, na Praça Sete de Setembro, centro de Belo Horizonte (lado da Galeria da Praça Sete, da Igreja São José).


  • Será exposto um painel com imagens, textos, tirinhas, frases, letras de músicas, enfim, muita coisa que lembre da força anarcossindicalista que resiste contra o patrão e o Estado;

  • O jornal será distribuído àqueles que tiverem real interesse em conhecer sobre a MAL, o anarquismo, o anarcossindicalismo;

  • Textos históricos estarão à disposição para qualquer um poder fazer a leitura e desenvolver um breve debate sobre o tema;

  • Debates e diálogos serão realizados durante o ato;



  • JORNAL DA M.A.L.

  • Será a primeira edição publicada de tantas outras, e terá como tema especial 1º de Maio - Luta dos Trabalhadores e Anarcossindicalismo. O jornal abordará desde a história do anarcossindicalismo até as condições de trabalho e realidade dos trabalhadores contemporâneos.

  • Após finalizarmos o jornal, ele estará disponível para o download no site da MAL.



Veja o flyer de divulgação da ação do primeiro de maio, CLIQUE AQUI!
Caso queira o flyer e/ou o cartaz de divulgação, faça o download aqui: Flyer | Cartaz

Vá, esteja presente, conheça mais sobre o sindicalismo revolucionário, sobre o MAL!


M.A.L. - SAÚDE E ANARQUISMO!

segunda-feira, 13 de abril de 2009

Versos Íntimos - Augusto dos Anjos

"Vês! Ninguém assistiu ao formidável
Enterro de tua última quimera.
Somente a Ingratidão – esta pantera –
Foi tua companheira inseparável!

Acostuma-te à lama que te espera!
O Homem, que, nesta terra miserável,
Mora entre feras, sente inevitável
Necessidade de também ser fera.

Toma um fósforo. Acende teu cigarro!
O beijo, amigo, é a véspera do escarro,
A mão que afaga é a mesma que apedreja.
Se a alguém causa inda pena a tua chaga,
Apedreja essa mão vil que te afaga,
Escarra nessa boca que te beija!
"

Um pouco do pré-modernismo de Augusto dos Anjos caracterizado por materialismo e indiretamente transbordando sentimentos. Um splater goore indescoberto.

Leia Augusto dos Anjos em um momento depressivo e escute Pink Floyd. Uma dica de suicídio.

segunda-feira, 6 de abril de 2009

A Abolição do Trabalho - Bob Black

"Todavia, o trabalho moderno tem muito piores implicações. As pessoas não só trabalham como têm tarefas. Cada um tem uma tarefa a cumprir, o que equivale a produção diária. Mesmo quando a tarefa não nos dá muito que fazer (o que praticamente não acontece), a monotonia da sua obrigatoriedade esgota a nossa potencialidade de divertimento. O emprego significa o aluguel das energias de uma pessoa por um limite de tempo razoável. E por mais engraçada que a tarefa seja, aquilo que tem de ser feito durante quarenta horas por semana, já não falando das condições em que tem de ser executado, é somente um fardo. O objectivo são os lucros dos proprietários que não contribuem em nada para o projecto. Isto é o verdadeiro mundo do trabalho: um trabalho burocraticamente impudente, sexualmente devastador e discriminatório, com os chefes cabeças ocas a explorar e a escapar dos seus subordinados, se for caso disso, bem entendido. O capitalismo na vida real suborna aquele que mais produz por exigência dum controle central."
A Abolição do Trabalho, de Bob Black.

Faça o download pela BPI!

sábado, 4 de abril de 2009

Sadismo Policial

Policia: Instituição de práticas sádicas.
Afinal, todos sabemos o tanto de prazer que um policial sente ao dar tapa na cara de pobre, de trabalhador; ao sufocar no saco e enfiar a vassoura; ao jogar bomba de gás lacrimogêneo em estudantes e trabalhadores; ao assassinar várias pessoas que um dia seriam provas contra policiais corruptos (queima de arquivo); dentre outras regalias praticadas por este crime organizado e sádico.

Proteção ou manifestação do sadismo coletivo organizado?

Rosas, Cocaína, Príncipes, Assassinos

Será que empreguei corretamente a(s) vírgula(s) no título?

Eu nao vejo na tv, eu nao ouço falar, eu nao leio; eu convivo com muleque que cheira pó desde os 11 anos, é foda? é pra caralho...

fazer o que? A sociedade fez isso, e apenas alguns tem a cara, a disposição de encarar isso e conviver com essa 'gente'.. Eu dou ideia, do as moral e pá, alguns ouvem, mas fazer o que? Os cuzão que só sabem julgar, a sociedade hipócrita que só sabe julgar NUNCA foi lá pra ensinar...

O muleque nao tem pai, nao tem mãe, não tem incentivo nenhum, apenas recebe preconceito e vive ao redor de drogas, quando se transforma em monstro a sociedade o reprime e o julga...

"que cuzão qe condena foi la pra ensinar?" - Facção Central

Quem é(são) o(s) assassino(s), violento(s), RIDÍCULO(S) nessa história que se repete dezenas de vezes ao meu pequeno redor, e milhões de vezes ao nosso redor?

Histórias que ninguém quer ouvir. Crianças sedadas e que são criadas em um mundo imaginário de flores e passarinhos não gostam de histórias de horror. Na nossa realidade não há cinderela nem princesa, elas foram em bora com as 2 gramas de cocaína que agora deixam o rosto do quase principe encantado (que, por alguma má sorte ou escolha do roterista, teve um papel drástico nesta história, totalmente antagônico ao papel de principe encantado) anestesiado, sem sentimentos.

Sem sentimentos? Não, absolutamente não.

Sem sentimentos? Quem vive sem eles? Ódio e vingança são os companheiros de viagem dessas 'bestas' julgadas pelos santos bem sucedidos da nossa sociedade.

Tenho vergonha de absolutamente tudo. Nunca senti isso, sempre ouvi alguém falar, mas nunca estive neste estado. Vergonha, tristeza, ódio. Tudo pelo amor.

quarta-feira, 1 de abril de 2009

Imagens Auto-explicativas

EZLN, O PODER É TEU!
POVO, O PODER É TEU!

segunda-feira, 30 de março de 2009

Isto é Evolução

"Eu também quero a volta à natureza. Mas essa volta não significa ir para trás, e sim para a frente", disse Nietzsche.

A humanidade encontra-se em um estado de calamidade social e muitos dizem viver em um mundo globalizado. Vale lembrar que em virtude do desenvolvimento da tecnologia estamos conectados ao outro lado do planeta na hora que quisermos, todavia nossas relações no cotidiano contrastam essa idéia de globalização. Estamos cada vez mais com stress, ódio, cansaço, dentre outras emoções tantas que nos fazem distanciar cada vez mais do próximo. A sociedade é formada e mantida por medo e submissão. Instituições de todos os tipos nos moldam cada vez mais para sabermos conviver em meio à tanta violência e ódio resultando no conformismo existente hoje em dia em uma gigante parcela da humanidade.

Distúrbios físicos e psicológicos são normalidades em uma espécie animal que poderia viver em harmonia tanto quanto as demais.
“Aquelas comunidades –escreveu Darwin - do que encerram a maior quantidade de membros que simpatizam entre si, florescerão melhor e deixarão maior quantidade de descendentes”.
E é isso o que acontece? Desenvolvemos tecnologia que auxilia a medicina em contrapartida esta mesma tecnologia nos torna sedentários e cada vez mais anti-sociais. “A televisão mata a imaginação e leva ao estado hipnótico”.

Relações econômicas, idéias de acabar com a crise, investimentos, números, imaginações e alucinações rondam a cabeça dos homens de negócio, os homens bem sucedidos; enquanto fome, miséria, podridão, imaginações e alucinações rondam a cabeça dos pobres desnutridos, os homens marginalizados.

Progresso? Evolução? Ou luta incansável mantida por uma moral pré-estabelecida que sempre as novas gerações aceitam e se ajustam como podem?

"Os anarquistas consideram [...] muitas vezes que não há progresso algum. Nós vemos a história não como um desenrolar linear ou dialético numa determinada direção, mas como um processo dualista. A história de todas as sociedades humanas é a história duma luta entre governantes e governados, entre opulentos e miseráveis, entre os que querem comandar e ser comandados e os que querem libertar-se, assim como aos seus camaradas; os princípios de autoridade e de liberdade, de governo e de rebelião, de Estado e de sociedade estão em perpétuo conflito. Esta tensão nunca é resolvida; o movimento da humanidade vai tanto num sentido, como no outro”. Nicolas Walter, Do Anarquismo.

Manutenção do poder de uns sobre outros; opressão; submissão; chantagem; normalidade e conformismo.

Como podemos afirmar que há alguma evolução no campo social em uma sociedade que é criada e mantida pelo medo? Dizer que há alguma evolução é tentar mascarar a realidade e ser covarde de não contesta-la.

sábado, 7 de março de 2009

A Comunicação: Boa? Ruim?

Os animais, mais exatamente as espécies, existem para cooperarem entre os membros mutuamente.

Mas o homem tem em mente de que é superior e pode desenvolver um sistema de organização social perfeito para sua sobrevivência, sendo que desencandeia em um aglomerado de invenções e pensamentos fúteis que só lhe prejudicam.

Ora, o homem é superior?

O homem pensa! Assim como a formiga, assim como o leão, o macaco, o cachorro, o jacaré. Sim, TODOS os animais têm raciocínio, mas, a diferença que existe é que o homem conseguiu desenvolver um modo de comunicação, assim compartilhando seus pensamentos com os outros da mesma espécie, e, com o compartilhamento de idéias, se evoluindo. Evoluindo? De um modo sim, de outro não. É, ele conseguiu desenvolver muita coisa para ter uma vida mais saudável e longa, porém muitas dessas coisas TAMBÉM vêm contra o humano. A história da humanidade nos serve de exemplo.


Mas, então, caso fosse as hienas que tivessem desenvolvido esse método de comunicação, elas fariam tanta besteira depois de tantos anos? A história e as diversas relações ocorridas na terra não são exatas, não podemos dizer algo com convicção sendo que estaríamos é especulando. Mas, a chance de caír no pensamento de que elas seriam uma espécie superior seriam altas, assim como ocorreu com o ser humano.

A cooperação de indivíduos da mesma espécie é tão magnífica e grandiosa quanto natural. Será que foi culpa, direta ou indiretamente das nossas comunicações que hoje em dia, o homem luta contra o homem?

Criação de uma idéia de posse vitalícia; instituição para organização; incentivo na tecnologia para o auxílio do trabalho do homem (ou simplesmente trabalhar menos e com isso aumentar cada vez mais a preguiça?); criação da idéia do deus superior para não cair no vazio baseando em uma loucura para justificar a existência; mais idéias, mais valores, submissões, revoltas, assassinatos.

E agora, José?

Tudo caiu para o ódio coletivo mútuo!

Devemos parar de nos comunicar? O ser humano, depois de uma suposta e brutal alternância de idéias, ainda seria ingênuo o bastante para voltar ao mesmo lugar?

O ser humano foi fraco. Ele não suportou os seus pensamentos. Não por que foi o ser humano, mas porque, talvez, ele tenha sido inexperiente. A comunicação em uma espécie facilitaria muito nas relações, produções, subsistência, dentre outros meios de sobrevivência. mas, tendo como base a lei natural do mantimento mais saudável das espécies: o apoio-mútuo 1.

Não sabe-se agora onde o ser humano irá parar, se sua espécie será auto-extinta, ou se ele destruirá o mundo.

há de vivermos da maneira mais natural que existe, pois é dela que nascerá a organização.

Notas

1 Vide o livro O Apoio-Mútuo - Piotr Kropotkin - fazer download!

domingo, 22 de fevereiro de 2009

Maconha? Legalize!

Espero que compreendam que este texto é uma mera opinião, não um artigo científico, então, caso queiram ter uma noção mais exata das informações aqui discutidas, espero que procurem fontes confiáveis, o que eu fiz e que me deu base para a dissertação.

Sim, sou a favor da legalização da maconha.

Absolutamente TUDO na natureza tem reflexos bons e ruins; em alguns o reflexo bom é maior e em outras o ruim é maior, e na marijuana há reflexos bons e ruins como qualquer uma substância.

Tenho duas coisas a dizer sobre isso:

Uma é sobre a planta em si e o preconceito, outra é sobre como ela é comercializada.

A planta em si, como eu disse, tem prós e contras; mas a velha moral da sociedade destaca somente o lado ruim da planta, dizendo isso e aquilo que ela provoca mesmo, e esquecem da parte boa. Oras, se fosse assim, ninguém tomaria remédio nenhum, basta apenas ler a bula de um remédio, lá contém MUITOS reflexos horríveis e que com certeza ninguém iria se dispor à vulnerabilidade, tais como cancer, falencia de celulas, etc., e, o que fazem? Eles repudiam o medicamento com todas as suas forças?

Além disso, muitos dizem "a maconha é a porta para as outras drogas". E eu digo: não exatamente.

Quem diz isso coloca uma questão que chega a ser de fé (uma vez que acredita-se que SEMPRE é a maconha que abre as portas ao mundo das drogas) sobre uma discussão que se baseia na razão. Ora, eu posso muito bem começar com o cigarro, que é legalizado e tem mais de 4.700 substancias tóxicas, e partir para a heroína para sentir algo novo.

Não tem provas científicas e nem é possivel provar por via da razão de que a maconha é uma porta para outras drogas.

Então o pré-conceito é gigante e prende a sociedade em velhos costumes falsos.

Agora partimos para a segunda coisa que desejo dizer:

Como ela é comercializada? Por via do tráfico: ela financia o tráfico, provoca assassinatos, os traficantes colocam várias outras substâncias para conservar e até aumentar as chances de uma dependencia física (chances poucas, uma vez que a maconha natural pode causar dependência psiquica, onde um usuário pode tomar atitude de parar a qualquer momento, mas sempre sentirá vontade de usar caso alguem use perto), dentre outras coisas que nossa realidade nos diz perfeitamente; então ela já herda da sua comercialização coisas ruins que servem de argumento contra o usuário.

O que deve-se fazer, no meu ver, é legalizar, tendo como reflexosa perca de uma grande base econômica e de sustentabilidade do tráfico;

embora que ela seja, com quase toda certeza, modificada TAMBÉM pelas grandes empresas a venderem para causar dependencia (o que fizeram com o tabaco) uma vez legalizada, a pessoa teria a oportunidade de cultivar a erva em casa, a pessoa iria manter e usar;

algo legalizado é MUITO mais fácil desenvolver um sistema de organização e manutenção social do que algo banido.

São esses e outros fatores um pouco mais periféricos - e que, se lembrados, merecem o mesmo destaque - que comprovam que a legalização não passa de uma evolução na nossa sociedade.

Afinal, o cultivo da planta é algo bem mais antigo que a criaçao do nosso Estado, governo, das leis, dos nossos valores.

Uma nova moral está para nascer. Saia da massificação, pense com a razão!

Faça parte da comunidade: "Caretas" Pela Legalização! Clique e entre!

LEGALIZE!

quinta-feira, 19 de fevereiro de 2009

bud - AME

Se você tampa sua boca, você não sente gosto;
Se você tampa seus olhos, você não é capaz de ver;
Se você tampa seus ouvidos, você não escuta;
Se você tampa seu nariz, não sente cheiro de nada;
Se você simplesmente não encosta em nada, você não sente nada;

Mas tente parar de pensar: o pensamento nos corrói um tanto; antes de tentar mudar você, saiba que você é louco, saiba que você ama, você sente raiva, que você pensa.
Você é extremamente vulnerável à todos os sentimentos possíveis. Cuidado para não sair do padrão do normal e por via dos seus pensamentos desviar da moral.

Cuidado para não ser tachado de louco.

Cuidado com o amor também. Muito cuidado.

Só aqui transbordam sentimentos, pensamentos e amor de um louco que quer parar um pouco; de um louco que às vezes prefere morrer;

Mas morrer? Você perde seus sentidos, e continua no pensamento? Ou o contrário?

A angústia é um dos sentimentos que mais se combina com o amor: O amor é a pura manifestação da negação.

Negue, e sinta o desespero do pensamento.

Sentiu? Não é que aqui estou enlouquecendo e exaltando sentimentos, que preferia não pensar nem ser tão sentimental?

Tente fugir e corra em círculos, sempre sendo pego pelo seu inimigo, por sua virtude.

Agonias, felicidades, angústias, ódios, inveja, ciúmes, tudo isso pelo amor: ele nega e cria.

Mas somos loucos por amar, ora, enfrentamos isso tudo em busca de um prazer imenso; estamos instáveis, sujeitos à tudo isso por amor: mas não pensamos antes;

O amor simplesmente nega o pensamento.

O amor cria, desenvolve, nega, e mata.



Muita paz e muito amor à você.

É, eu te amo também.



"ainda encontro, a fórumla do amor"

sexta-feira, 13 de fevereiro de 2009

200 anos de Darwin!

“Aquelas comunidades -escreveu- do que encerram a maior quantidade de membros que simpatizam entre si, florescerão melhor e deixarão maior quantidade de descendentes”

segunda-feira, 9 de fevereiro de 2009

Até Quando?


CLIQUE PARA EXPANDIR

É, a nike não tem culpa de explorar crianças nos países de terceiro mundo segundo algumas pessoas que se intitulam anarquistas.

sexta-feira, 6 de fevereiro de 2009

quinta-feira, 5 de fevereiro de 2009

segunda-feira, 2 de fevereiro de 2009

Sobre o Governo Representativo ou Parlamentarista - Kropotkin

Sobre o Governo Representativo ou Parlamentarista

Piotr Kropotkin

Parte I

*Este número trás o texto escrito por P. Kropotkin intitulado "Sobre o Governo Representativo ou Parlamentarista", estando dividido em quatro partes sendo publicada uma em cada edição.

Quando observamos as sociedades humanas nos seus traços essenciais, abstraindo das manifestações secundárias e temporais, constatamos que o regime político a que estão submetidas é sempre a expressão do regime econômico que existe no seio da sociedade. A organização política não se modifica pela vontade dos legisladores; pode, é verdade, mudar de nome, pode apresentar-se hoje sob a forma de monarquia, amanhã sob a da república, mas não sofre uma modificação equivalente; adapta-se, harmoniza-se com o regime econômico, de que é sempre a expressão e, ao mesmo tempo, a congregação, o sustentáculo.

Se às vezes, na sua evolução, o regime político dum tal país está atrasado comparativamente com a modificação econômica que nele se opera, é então, bruscamente alterado, modificado, remodelado, de maneira a ajustar-se ao regime econômico que se estabeleceu. Mas, por outro lado, se sucede que, em virtude duma revolução, o regime político vai além da modificação econômica, fica em estado de letra morta, de fórmula, inscrita nas cartas, mas sem aplicação real. Assim, a declaração dos Direitos do Homem, fosse qual fosse o seu papel na história, é hoje apenas um documento histórico, e essas belas palavras de Liberdade , Igualdade e Fraternidade permanecerão como um sonho ou uma mentira inscrita nas paredes das igrejas e das prisões, enquanto a liberdade e a igualdade se não tornarem a base das relações econômicas. O sufrágio universal seria tão inconcebível numa sociedade baseada na servidão, como o despotismo numa sociedade que tivesse por base o que se chama a liberdade da exploração.

As classes operárias da Europa ocidental compreenderam-no bem. Sabem ou advinham que as sociedades continuarão a ser esmagadas sob as instituições políticas existentes, enquanto o regime capitalista de hoje não for destruído. Sabem que essas instituições, embora revestidas de belos nomes são a corrupção e o domínio do mais forte erigidos em sistema, o estrangulamento de todas as liberdades e de todo o progresso; sabem que o único meio de sacudir esses empecilhos seria estabelecer as relações econômicas sobre um novo sistema, o da propriedade coletiva. Sabem finalmente que para realizar uma revolução política profunda e durável, é preciso realizar uma revolução econômica.

Mas por causa mesmo da ligação íntima que existe entre o regime político e o regime econômico, é evidente que uma revolução no modo de produção e de repartição dos produtos não se poderia operar, se não fizesse a par duma modificação profunda dessas instituições que se designam geralmente sob o nome das instalações políticas. A abolição da propriedade individual e da exploração que dela é a conseqüência, o estabelecimento do regime coletivista ou comunista seriam impossíveis se quiséssemos conservar os nossos parlamentos e os nossos reis. Um novo regime econômico exige um novo regime político, e esta verdade é também compreendia por toda a gente, que de fato o trabalho intelectual que se opera hoje nas massas diz respeito indistintamente aos dois aspectos da questão a resolver. Raciocinando sobre o futuro político, e ao lado das palavras Coletivismo e Comunismo, ouvimos as palavras : Estado Operário, Comuna Livre, Anarquia, ou então Comunismo Autoritário ou Anarquista, Comuna Coletivista.

Regra geral: "Quereis estudar com proveito? Começai por imolar um a um , os mil preconceitos que vos ensinaram "! - Estas palavras, pelas quais um astrônomo célebre começava os seus discursos, aplicam-se a todos os ramos dos conhecimentos humanos: muito mais ainda às ciências sociais do que as ciências físicas, porque logo no início destas, nos defrontamos com uma quantidade de preconceitos herdados dos tempos passados, de idéias absolutamente falsas, lançadas para melhor iludir o povo, de sofismas minuciosamente elaborados para falsificar o juízo que o povo possa formular. Temos assim um verdadeiro trabalho preliminar a fazer para marchar com segurança.

Ora, entre esses juízos, há um que merece sobretudo a nossa atenção, porque não só é a base de todas as nossas instituições políticas modernas, como aparece em todas as teorias sociais postas em destaque pelos reformadores franceses. É o da fé num governo representativo, num governo por procuração.

No fim do século XVIII, o povo francês destruía a monarquia e o último dos reis absolutos expiava no cadafalso os seus crimes e o dos seus antecessores.

Parecia que precisamente nessa época, desde que tudo que a revolução fez de bom, de grande, de duradouro, foi realizado pela iniciativa e a energia dos indivíduos ou dos grupos, graças à desorganização e a fraqueza do governo central, parecia, digo, que essa época o povo francês não procuraria voltar a submeter-se ao jogo dum novo poder, baseado nos mesmos princípios do anterior, ou mesmo muito mais forte porque não estaria contaminado pelos vícios do poder derrubado.

Mas não se deu assim. Sob a influência de preconceitos governamentais e deixando-se enganar pela aparência de liberdade e bom estar que davam - dizia-se- as instituições inglesa e americana, o povo francês apressou-se a dar-se a si mesmo uma constituição, depois constituições, que alterou por várias vezes, que variou até ao infinito nas suas particularidades, mas todas baseadas neste princípio: o governo representativo. Monarquia ou república, pouco importa! O povo não se governa por si mesmo: é governado por representantes escolhidos melhor ou pior. Proclamará a sua soberania, mas apressar-se-á a abdicar dela. Elegerá, bem ou mal, deputados que vigiará ou não, e serão esses deputados que se encarregarão de regular a imensa diversidade de interesses desencontrados, de relações humanas tão complicadas no seu conjunto, sobre toda a superfície da França.

Mais tarde em todos os países da Europa continental dá-se a mesma evolução. Todos destroem uns após outros as suas monarquias absolutas, e todos se lançam no caminho do parlamentarismo. Até aos dois despotismos do Oriente não há país que não siga este caminho: a Bulgária, a Turquia e a Sérvia tentam o regime constitucional; na própria Russia tenta-se sacudir o jogo duma camarilha para o substituir pelo jogo temperado duma assembléia de delegados.

E, o que é pior, a França, inaugurando novos caminhos, cai apesar disto nos mesmos erros. O povo desgostoso com uma triste experiência da monarquia constitucional, destrói-a e apressa-se no dia seguinte a eleger uma assembléia a que não muda senão o nome e confia-lhe o cuidado de governar...para que o venda a um bandido que chamará a invasão do estrangeiro às planícies férteis da França.

Vinte anos mais tarde cai ainda no mesmo erro. Vendo a cidade de Paris livre, abandonada pela tropa e pelos poderes, não trata senão de experimentar uma nova forma que facilitasse o estabelecimento de um regime econômico. Satisfeito por ter mudado o nome de Império pelo de República e este pelo de Comuna, apressa-se a pôr em prática uma vez mais, no seio da Comuna, o sistema representativo. Falsifica a idéia nova pela herança cancerosa do passado. Abdica a sua própria iniciativa nas mãos de uma assembléia de pessoas eleitas mais ou menos ao acaso, e confia-lhe o trabalho dessa organização completa das relações humanas que podia ter dado à Comuna a força e a vida.

As constituições periodicamente esfarrapadas em pedaços voam como folhas mortas caídas ao rio por um vento de outono! Não importa, volta-se sempre aos primeiros amores; rasgada a décima sexta constituição, faz-se uma décima sétima!

Finalmente, mesmo em teoria vemos reformadores que, em matéria econômica, não se detém diante duma modificação completa das formas existentes, que se propõe alterar completamente a produção e a troca e abolir o regime capitalista. Mas quando se trata de expor - em teoria bem entendido-o seu ideal político, não ousam tocar no sistema representativo; sob a forma de Estado Operário ou de Comuna Livre, procuram sempre conservar custe o que custar, esse governo por procuração. Todo um povo, toda uma raça se aferra ainda encarniçadamente a esse sistema.

Felizmente vai-se fazendo luz sobre este assunto. O sistema representativo não está na prática unicamente nos países que outrora mal conhecíamos. Funciona e tem funcionado na grande arena da Europa Ocidental, em todas as suas variedades, sob todas as formas possíveis, desde a monarquia temperada até à Comuna revolucionária; e vai-se compreendendo que, acolhido com grandes esperanças, em toda a parte se tornou um instrumento de intrigas, de enriquecimento pessoal ou embaraço à iniciativa e ao desenvolvimento ulterior. Vai-se compreendendo que a religião da representação tem o mesmo valor que a das superioridades naturais e dos personagens reais. Mais do que isso, começa-se a compreender que os vícios do governo representativo não dependem só das desigualdades sociais: que aplicado num meio em que todos os homens tenham igual direito ao capital e ao trabalho produziria os mesmos resultados funestos. E pode-se facilmente prever o dia em que esta instituição, nascida, segundo a feliz expressão de J. S. Miel, do desejo de se garantir contra o bico e as garras do rei dos abutres, cederá o lugar a uma organização política nascida das verdadeiras necessidades da humanidade e da concepção de que a melhor maneira de ser livre, é não ser representado, não abandonar as coisas, todas as coisas, à Providência ou a eleitos, mas fazê-las para si mesmo.

Esta conclusão surgirá também, nós o esperamos, ao próprio leitor, depois de termos estudado os vícios intrínsecos do sistema representativo, inerente ao próprio sistema, sejam quais forem o nome e a extensão dos agrupamentos humanos no seio dos quais se aplica.

Parte II

"Previnidos pelos nossos costumes modernos contra os prestígios da realeza absoluta - escrevia Agostinho Thierry em 1828 - há outros dos que nos devemos nos acautelar, os da ordem legal e do regime representativo"1 . Bentham dizia pouco mais ou menos a mesma coisa. Mas nessa época as suas advertências passavam despercebidas. Acreditava-se então no parlamento, e respondia-se a estas críticas com este argumento, bastante plausível na aparência: "O reqime parlamentar não disse ainda a sua última palavra: não deve ser julgado enquanto não tiver por base o sufrágio universal".

Mais tarde o sufrágio universal introduziu-se nos no nossos costumes. Depois de se lhe ter oposto durante muito tempo, a burguesia acabou por compreender que ele não comprometeria em nada a sua dominação, e decidiu aceitá-o. Nos Estados Unidos o sufrágio universal funciona já há quase um século livremente; estabeleceu-se também na Franca e na Alemanha. Mas o regime representativo não mudou: ficou o que era no tempo de Thierry e de Bentham; o sufrágio universal não o melhorou, os seus, defeitos tornaram-se até maiores ainda. Ë em virtude disso que hoje não são já os revolucionários como Proudhon que o crivam com a sua crítica; são já os moderados como Mill2 , como Spencer3 , que clamam: "Fora o parlamentarismo"! Pode-se apreciá-lo publicamente, e, baseando-se em fatos geralmente conhecidos e reconhecidos poder-se-iam neste momento escrever volumes sobre os inconvenientes, com a certeza de encontrar eco na grande massa de eleitores. O governo representativo está julgado - e condenado.

Os seus partidários - há-os ainda de boa fé, embora os não haja de boa reflexão - não deixam de fazer valer os serviços que, segundo eles, nos prestou essa instituição. A ouvi-los, é ao regime representativo que devemos as liberdades Políticas que possuímos hoje e desconhecidas no tempo da monarquia absoluta. Mas não é isso tomar a causa pelo efeito, ou antes um dos efeitos simultâneos pela causa?

Não foi o sistema representativo que nos deu, nem mesmo garantiu, as poucas liberdades que conquistamos no último século. Foi o grande movimento do pensamento liberal, resultante da revolução, que as arrancou aos governos, ao mesmo tempo que lhes arrancou a representação nacional; foi ainda esse espirito de liberdade, de revolta, que soube conservá-los contra até os embaraços contínuos dos governos e dos próprios parlamentos. Por si mesmo o governo o representativo não dá liberdades reais, adapta-se admiravelmente ao despotismo. As liberdades tem que ser arrancadas da mesma maneira que aos reis absolutos: e uma vez arrancadas é preciso defende-las contra o parlamento da mesma maneira que outrora contra um monarca, dia a dia, palmo a palmo, sem nunca desarmar, o que não se consegue senão quando há no país uma classe forte, ciosa das suas liberdades e sempre pronta a defende-las pela agitação extra-parlamentar contra a menor usurpação. Onde esta classe não existe ou onde não tem unidade de defesa, as liberdades políticas não existem haja ou não uma representação nacional. A própria Câmara se torna uma Ante-Câmara do rei. São prova disso os parlamentos dos Balcans, da Turquía e da Áustria.

É muito usual citarem-se as liberdades inglesas e associarem-se facilmente, sem refiexão, ao Parlamento. Mas esquece-se por que processos, dum caráter puramente insurrecioial, cada uma dessas liberdades foi arrancada a esse mesmo Parlamento. Liberdade de associacção - tudo isto foi arrancado ao Parlamento à forca, pela agitação, prestes a transformar-se em revolta. Foi por meio das trades-unions, e a greve contra os editos do Parlamento e as execuções pela força no ano de 1813 foi saqueando, há apenas cinquenta anos, as fábricas que os operários ingleses obtiveram o direito de se associarem e de fazerem greve. Foi derrubando, com as barras das grades de Hyde-Park, a polícia que proibia a entrada que o povo, de Londres, recentemente ainda, afírmou contra um ministério constitucional, o seu direito de se manifestar na rua e nos parques da capital. Não é por meio de juntas parlamentares, mas pela agitação extra-parlamentar, é erguendo e juntando cem mil homens que protestam e clamam em frente das casas da aristrocacia ou do ministério, que a burguesia inglesa defende as suas líberdades. Quanto ao Parlamento, não faz senão usurpar continuamente os direitos políticos do país e suprimi-los com uma penada, tal qual como um rei, quando não encontra pela frente uma massa pronta a revoltar-se. Onde estão, por exemplo, a inviolabilidade do domicilio, e o segredo da correspondência, desde que a burguesia preferiu renunciar a esses direitos para obter do governo um simulacro de proteção o contra os revolucionários?

Atribuir aos Parlamentos o que é devido ao progresso geral, imaginar que basta uma Constituição para haver liberdade é pecar contra as regras mais elementares da crítica histórica.

Além disso, a questão não é essa. Não se trata de saber se o regime representativo oferece algumas vantagens sobre o regime duma criadagem explorando em seu proveito os caprichos dum senhor absoluto. Se se introduziu na Europa foi porque correspondia melhor à fase de exploração capitalista que atravessamos no século dezenove, mas que vai chegando a seu termo. Oferecia certamente mias segurança para o industrial e o comerciante aos quais dava o poder arrancado das mãos dos senhores.

Mas também a monarquia, a par de enormes inconvenientes, podia oferecer algumas vantagens sobre o regime dos senhores feudais. Também ela foi um produto necessário da sua época. Devemos nós, por isso permanecer sempre sob a autoridade dum rei e dos seus lacaios?

O que nos importa, homens do fim do século dezenove, é saber se os efeitos do poder representativo não são tamanhos e tão insuportáveis como o eram os do poder absoluto. Se os obstáculos que ele opõe ao desenvolvimento ulterior das sociedades não são, no nosso século, tão perturbadores como o eram os obstáculos opostos pela monarquia no século XVIII. Finalmente se um simples remendo representativo pode ser o bastante para a nova fase econômica cujo aparecimento entrevemos. Eis o que se deve estudar em vez de discutir o papel histórico do regime político da burguesa.

Posta pois a questão nestes termos, não há hesitaçã na resposta.

Certamente que o regime representativo - esse compromisso com o antigo regime que conservou ao governo todas as atribuições do poder absoluto, submetendo-o, bem ou mal, a uma fiscalização popular mais ou menos fictícia - fez o seu tempo. É hoje um entrave para o progresso. Os seus defeitos não resultam dos homens, dos indivíduos que estão no poder - são inerentes ao próprio sistema e são tão profundos que nenhuma modificação poderia adaptá-los às necessidades novas da nossa época. O sistema representativo foi a dominação organizada da burguesia e desaparecerá com ela. Para a nova fase econômica que se anuncia, devemos procurar um novo modo de organização política, baseado num princípio diferente do da representação. E a lógica dos fatos que o impõe.

Em primeiro lugar, o governo representativo participa de todos os defeitos inerentes a qualquer governo. Mas longe de os atenuar, acentua-os ainda mais e dá origem a outros novos.

Uma das mais profundas palavras de Rousseau sobre os governos em geral, aplica-se ao governo eletivo como a todos os outros. Para abdicar dos nossos direitos nas mãos duma assembléia eleita, não seria na verdade preciso que ela fosse composta de anjos, de seres sobrehumanos? E ainda que o fossem bem depressa nasceriam chifres e garras a esses seres etéreos, desde que eles começassem a governar o rebanho humano.

Semelhante neste ponto aos déspotas, o governo representativo - chame-se ele Parlamento, Convenção, Conselho da Comuna, ou tenha outro nome mais ou menos ridículo, seja nomeado pelos prefeitos de um Bonaparte ou arqui-livremente eleito por uma cidade insurgida, - o governo representativo procurará sempre alargar a sua legislação, reforçar sempre o poder, interferindo cm tudo, matando a iniciativa do indivíduo e do grupo para as suplantar pela lei. A sua tendência natural, inevitável, será apoderar-se do indivíduo desde a sua infância e levá-lo de lei em lei, da ameaça a punição, do berço a cova, sem nunca o liberta-lo da sua vigilância. Viu-se alguma vez uma Assembléia declarar-se incompetente ela para o que for? Quanto mais revolucionária for, mais tratará de se meter em tudo o que não for da sua competência. Legislar sobre todas as manifestações da atividade humana, intervir nas menores particularidades da vida dos "seus súditos" - é a própria essência do Estado, do Governo. Criar um governo, constitucional ou não, é constituir uma força um fatalmente procurará apoderar-se de tudo, regulamentar todas as funções da sociedade, sem reconhecer outro freio além do que nós lhe poderemos opor de tempos a tempos pela agitação ou insurreição. O governo parlamentar - ele próprio disso deu a prova - não faz exceção á regra.

"A missão do Estado, dizem-nos para nos cegarem melhor, - é proteger o fraco contra o forte, o pobre contra o rico, as classes trabalhadoras contra as classes privilegiadas". Nós sabemos perfeitamente como os governos tem desempenhado esta função: tem-na compreendido perfeitamente ao contrário. Fiel à sua origem, o governo tem sido sempre o protetor do privilégio contra os que dele procuram libertar-se. O Governo representativo organizou principalmente a defesa, com a conivência do povo, de todos os privilégios da burguesia comercial e industrial contra a aristocracia por um lado, e contra os explorados por outro - modesta, delicada para com uns, feroz contra os outros. É por isso que a mais insignificante das leis protetoras do trabalho, por mais anódina que seja, não pode ser arrancada a um parlamento senão pela agitação insurrecional. Basta lembrar as lutas que se tiveram de sustentar, da agitação que teve de se fazer, para obter dos parlamentos ingleses, do conselho federal sulco, das câmaras francesas, algumas péssimas leis sobre a limitação das horas de trabalho. As primeiras leis deste gênero votadas na Inglaterra, não foram extorquidas senão pondo barris de pólvora sob os maquinismos das fábricas.

Além disso, nos países em que a aristocracia não foi ainda derrubada por uma revolução, os senhores e os burgueses entendem-se maravihosamente. - "Tu me reconhecerás, senhor, o direito de legislar, e eu estarei de guarda ao teu castelo", diz o burguês e assim o faz enquanto se não sente ameaçado.

Foram precisos quarenta anos duma agitação que, por momentos, penetrou até nos campos, para decidir o Parlamento inglês a garantir ao arrendatário o beneficio dos melhoramentos, feitos por ele na terra arrendada. Quanto à famosa "lei agrária" votada para a Irlanda. foi preciso - o próprio Gladstone o confessava - que o país se pusesse cm insurreição geral, que se recusasse terminantemente a pagar as rendas e se defendesse das cobranças pelo boicote, aos incêndios, as execuções dos lords, para que a burguesia se visse forcada a votar essa medíocre lei que finge proteger o país esfaimado contra os lords que são a causa disso.

Mas se se trata de proteger os interesses do capitalista, ameaçado pela insurreição ou só pela agitação - então o governo representativo, órgão da dominação do capital, torna-se feroz. Fere, e com mais segurança e covardia do que qualquer déspota. A lei contra os socialistas na Alemanha vale o édito de Nantes; e nunca Catarina II depois da Jacquerie de Pongatchoff, nem Luís XVI depois da guerra das farinhas, deram tantas provas de ferocidade como essas duas "Assembléias Nacionais" de 1848, e de 1871, cujos membros gritavam: "Matai os lobos, as lobas e os lobinhos!" e unanimamente, à exceção de um voto, felicitavam pelos massacres os soldados ébrios de sangue!

A fera anônima de seiscentas cabeças ultrapassou os Luís XI e os João IV.

Assim será sempre enquanto houver um governo representativo, seja ele regularmente eleito, ou imposto por meio de insurreição.

Ou a igualdade econômica se estabelece na nação, na cidade, e então os cidadãos livres e iguais não abdicarão dos seus direitos nas mãos de alguns, procurarão um novo modo de organização que lhes permita gerir eles mesmos as suas coisas. Ou haverá ainda uma minoria que dominará as massas no terreno econômico - um quarto Estado composto de burgueses privilegiados, e então não terão as massas apoio nenhum. - O governo representativo, eleito por essa minoria, procederá coerentemente. Legislará para manter os seus privilégios e procederá contra os insubmissos pela força e o massacre.

Ser-nos-ia impossível analisar neste livro todos os defeitos do governo representativo. Seria preciso para isso escrever muitos volumes. Limitando-nos apenas aos mais essenciais, ainda assim teríamos de sair dos limites marcados para estes capítulos. Há porém um que merece ser mencionado.

Coisa singular! O governo representativo tinha por fim impedir o governo pessoal; devia dar o poder a uma classe e não a uma pessoa. E contudo houve sempre a tendência para voltar ao poder pessoal, à submissão a um só homem.

A causa desta anomalia é muito simples. Depois de se terem dado ao governo as milhares de atribuições que se lhe reconhecem hoje; depois de se lhe ter confiado a gestão de todas as coisas que interessam o país, e dado um orçamento de muitos milhões, era possível confiar à multidão parlamentar a gerência dessas inúmeras coisas? Foi pois necessário nomear um poder executivo - o ministério - investido com todas essas atribuições, quase reais. Que ínfima autoridade não é a de um Luís XIV que se vangloria de ser o Estado, comparada com a dum ministério constitucional de hoje!

É verdade que a Câmara pode derrubar esse ministério, mas para fazer o quê? - Para nomear outro que seria obrigado a derrubar dentro de oito dias se ela fosse conseqüente? Assim prefere conserva-lo até que o país grite demasiadamente, e então despede-o para chamar o que derrubara dois anos antes. Forma assim esta espécie de gangorra. Gladstone-Beaconsfield, Beaconsfield-Gladstone, o que fundamentalmente é a mesma coisa; o país é desta forma governado sempre por um homem, o chefe do gabinete.

E se se trata de um homem hábil, que lhe garante "a ordem", isto é, exploração dentro e a exploração para os outros países - então submete-se a todos os seus caprichos, atribui-lhes todos os dias novos poderes. Seja qual for o seu desprezo pela constituição, sejam quais forem os escândalos do seu governo, suporta tudo; se o contraria nas coisas insignificantes, não deixa de lhe dar carta branca em tudo o que tem importância. Bismarck é um exemplo disso; foram-no para as gerações precedentes Guizot, Pitt e Palmerston.

Isto compreende-se perfeitamente: todo governo tem uma tendência para se tornar pessoal; é a sua origem; é a sua essência. Seja o parlamento censitário ou saia do sufrágio universal, seja nomeado exclusivamente por trabalhadores, e composto por trabalhadores, procurará sempre o homem em que possa aliviar-se do trabalho de governar, e ao qual se submeta. Enquanto confiarmos a um pequeno número todas as atribuições econômicas, políticas, militares, financeiras, industriais, etc., etc., que lhe damos hoje, esse pequeno grupo tenderá necessariamente, como um destacamento de soldados em campanha, a submeter-se a um chefe único.

Isto em tempo de paz. Se a guerra estoura nas fronteiras, ou se uma luta civil se desencadeia no interior, - então o primeiro ambicioso que aparecer, o primeiro aventureiro hábil, apoderando-se da máquina de mil ramificações que se chama administração, impor-se-á ao país. A assembléia não será capaz de lho impedir como não o seria qualquer de quinhentos homens tomados ao acaso na rua: pelo contrário paralizará a resistência. Os dois aventureiros que usam o nome de Bonaparte são meros acasos. Foram a conseqüência inevitável da concentração dos poderes.

Quanto à eficácia que têm os discursos para resistirem aos golpes de estado, a França sabe-o bem. Mesmo nos nossos dias, foi por ventura a Câmara, que salvou a França do golpe de Estado de Mac-Mahon? Foram - sabe-se hoje - os grupos extra-parlamentares. Citam-nos a Inglaterra? Mas ela não se vangloria de ter mantido as suas instituições parlamentares durante o século XIX! Ela soube evitar, é verdade, durante este século, a guerra de classes; mas tudo nos leva a crer que o teria feito igualmente, e não é preciso ser profeta para prever que o Parlamento não sairá desta luta e cairá duma maneira ou de outra conforme a marcha da Revolução.

E se quiséssemos, na próxima revolução, deixar as portas abertas à reação, à própria monarquia talvez, bastava-nos para isso confiar os nosso interesses a um governo representativo, a um ministério com todos os poderes que possui hoje. A ditadura reacionária, a princípio com um certo tom avermelhado, depois azulando-se à medida que se fosse sentindo mais firme na sela, não se faria esperar. Teria à sua disposição todos os instrumentos de dominação: e deles facilmente se poderia servir.

Fontes de tantos males, não presta o sistema representativo alguns serviços pelo menos para o desenvolvimento progressivo e pacífico das sociedades?

- Não teria ele contribuído para a descentralização do poder que se impunha no nosso século? - Não soube ele mesmo impedir as guerras? - Não teria ele sabido adaptar-se às exigências de ocasião e sacrificar a tempo uma ou outra instituição já velha, para evitar a guerra civil? Não oferece ele, pelo menos, algumas garantias de progresso e melhoramento no interior?
Quanta ironia amarga não há em cada uma destas perguntas e em tantas outras que surgem quando se julga a instituição! Toda a história do nosso século prova o contrário.

Os parlamentos, fiéis à tradição real e à sua transfiguração moderna, o jacobinismo, não fizeram senão concentrar os poderes nas mãos do governo. Funcionarismo para tudo - tal é a característica do governo representativo. Desde o princípio deste século se fala em descentralização, autonomia, e não se faz senão centralizar, matar os últimos vestígios de autonomia. A própria Suíça sofreu essa influência, e na Inglaterra deu-se o mesmo. Sem a resistência dos industriais e dos comerciantes, estaríamos ainda hoje a pedir a Paris licença para matar um boi em Brives-Guillarde. Tudo cai pouco a pouco sob a alçada do governo. Só lhe falta já a gestão da indústria e do comércio, da produção e do consumo, e os democratas socialistas cegos pelos preconceitos autoritários sonham já com o dia em que poderão regular no parlamento de Berlim o trabalho das fábricas e o consumo em toda a Alemanha.

O regime representativo, que dizem ser tão pacífico, preservou-nos das guerras? Nunca se exterminou tanto como sob o regime representativo. A burguesia precisa dominar nos mercados e essa dominação não se obtém senão à custa das outras burguesias, pelos obuzes e pelas metralhadoras. É preciso dar a glória militar aos advogados e aos jornalistas e não há maiores partidários da guerra do que os guerreiros de gabinete.

Não se adaptam então os parlamentos às exigências de ocasião? À modificação das instituições em decadência?

Como no tempo da Convenção era preciso espetar os sabres quase no pescoço dos convencionais para lhes arrancar apenas a sanção dos fatos consumados, assim hoje é preciso a insurreição para arrancar aos "representantes do povo" a mais insignificante das reformas.

Quanto ao melhoramento do corpo eletivo, nunca se viu uma degradação dos parlamentos como nos nossos dias. Como todas as instituições em decadência, esta vai cada vez mais tornando-se pior. Falava-se da podridão parlamentar do tempo de Luís Filipe. Falai hoje às poucas pessoas honestas perdidas nessas paragens e elas vos dirão: "É de doer o coração"! O parlamentarismo só inspira tristeza a quem o observar de perto.

Mas, não poderia ele melhorar? Um elemento novo, o elemento operário, não lhe insuflaria um sangue novo? - Analisemos então a própria constituição das Assembléias representativas, estudemos o seu funcionamento, e veremos que alimentar esses sonhos, é tão ingênuo como casar um rei com uma camponesa na esperança duma geração de bons reis!

Parte III

Os defeitos das Assembléias representativas não nos causarão estranheza, se refletirmos um momento apenas sobre a maneira como elas se recrutam e como funcionam.

Será preciso que eu descreva aqui o quadro, tão pungente, tão profundamente repugnante, e que nós todos conhecemos, - o quadro das eleições? Na burguesa Inglaterra e na democrática Suíça, na França como nos Estados Unidos, na Alemanha como na República Argentina, não é essa triste comédia em toda parte a mesma?

É preciso contar como os agentes e as comissões eleitorais "forjam, arrumam" uma eleição (verdadeira gíria de larápios), espalhando para um lado e para o outro, promessas políticas nos comícios; como eles penetram nas famílias, adulando a mãe, o filho, acariciando se for preciso o cão asmático ou o gato do "eleitor"? como eles se espalham pelos bares, convertem os eleitores e atraem os mais calados abrindo com eles discussões, como esses burlões que vos arrastam ao "jogo da vermelhinha"? como o candidato, depois de se ter feito desejar, aparece enfim no meio dos seus "queridos eleitores", com um sorriso benevolente, o olhar modesto, a voz melíflua, - tal qual como velha megera que aluga quartos em Londres, ao procurar enredar um locatário com o seu doce sorriso e os seus olhares angélicos? É preciso enumerar os programas mentirosos - todos mentiosos - sejam eles oportunistas ou socialistas-revolucionários, nos quais o próprio candidato, por pouco inteligente que seja e por pouco que conheça a Câmara, acredita tanto como acredita nas predicações do "Mensageiro Coxo" e que ele defende com entusiasmo uma verbosidade, uma entoação de voz, um sentimento dignos de um doido ou de um ator de feira? Não é debalde que a comédia popular se não limita a fazer Bertrand e de Robert Macaire simples burlões e lhes acrescenta a essas excelentes qualidades a de "representantes do povo" à busca de votos e de lenços para roubarem.

É preciso dar aqui a nota das despesas das eleições? Mas todos os jornais nos informam suficientemente a esse respeito. Ou reproduzir a nota das despesas dum agente eleitoral, na qual figuram grandes quantidades de carneiros, fardos de flanela e até água enviado tudo pelo candidato compadecido dos "seus queridos filhos", dos seus eleitores? Será preciso reproduzir aqui as despesas com pêras cozidas e ovos, "para confundir o partido contrário", que sobrecarregam os orçamentos eleitorais nos Estados Unidos, e as despesas de cartazes caluniosos e "manobras da última hora" que desempenham já um horrível papel nas eleições européias?

E quando o governo intervém, com os seus "lugares", os seus cem mil "lugares" oferecidos ao que mais der, as suas condecorações, os seus depósitos de tabaco, a sua alta proteção prometida às casas de jogo e de vício, a sua imprensa desavergonhada, os seus policiais, os seus burlões, os seus juízes e os seus agentes...

Não, seria demais! Deixemos essa lama, não a remexamos! Limitemo-nos apenas a perguntar: Haverá uma única paixão humana, a mais vil, a mais abjecta de todas, eu não seja aproveitada num dia de eleições? Fraude, calúnia, baixeza, hipocrisia, mentira, toda a lama que existe no fundo da besta humana - eis o belo espetáculo que nos oferece um país quando se lança no período eleitoral.

É assim e assim será sempre enquanto houver quem faça eleições para servir de escada aos outros, que se tornarão chefes e senhores dos que os elegeram. Sejam até operários todos, todos iguais, e meta-se-lhes na cabeça eleger governantes - que se dará a mesma coisa. Já não se distribuirão pernas de carneiro, mas distribuir-se-á a adulação, a mentira, - o que equivalerá ao mesmo. Como se há de conseguir outra coisa quando se põem em leilão os direitos mais sagrados?

Que se pede, afinal, aos eleitores? Que encontrem um homem a que se possa confiar o direito de legislar sobre tudo o que eles têm de mais caro: os seus direitos, os seus filhos, o seu trabalho. E é para admirar que dois ou três mil Robert Macaire se disputem entre si os direitos reais? Procura-se um homem ao qual se possa confiar, juntamente com alguns outros, saídos da mesma loteria, o direito de perder os nossos filhos aos vinte e um anos ou aos dezenove, se assim lhe parecer acertado; de os conservar encerrados num quartel durante três anos, ou mesmo dez se se julga isso melhor, absorvendo uma atmosfera putrefata; de os fazer massacrar quando e onde quiser ao começar uma guerra que o país será forçado a fazer, uma vez a isso arrastado. Poderá fechar as Universidades ou abri-las conforme lhe apetecer; obrigar os pais a mandar para lá os filhos ou proibir-lhes a entrada. Novo Luís XIV poderá favorecer uma indústria ou mata-la se assim o preferir; sacrificar o Norte pelo Sul, ou o Sul pelo Norte; anexar uma província ou cede-la. Disporá duma insignificância como três bilhões de francos por ano, que ele tirará do estômago do trabalhador. Terá ainda a prerrogativa real de nomear o poder executivo, isto é, um poder que, desde que esteja de acordo com a câmara, poderá ser despótico e tirânico de uma maneira diferente da extinta realeza. Porque, se Luís XVI não mandava senão em algumas dezenas de milhares de funcionários, ele manda em cem vezes maior número deles e se o rei podia roubar ao tesouro público alguns sacos de escudos, o ministro constitucional de hoje, num só lance de Bolsa, recebe "honestamente" milhões.

Não é para admirar ver o embate de tantas paixões, quando se procura um chefe para ser investido dum tal poder! Quando a Espanha pôs o seu trono vago em leilão, alguém se admirou de ver flibusteiros surgirem de toda a parte? Enquanto permanecer a venda dos poderes reais, nada se poderá reformar: a eleição será a feia das vaidades e das consciências.

Ainda mesmo que fosse cerceada o mais possível o poder dos deputados, ainda que o fracionassem constituindo em cada Estado pequenos Estados correspondendo à atual divisão dos distritos ou mesmo em conselhos, tudo ficaria na mesma.

Compreende-se ainda a delegação quando cem, duzentos homens que se encontram todos os dias no seu trabalho, nos seus serviços comuns, que se conhecem muito bem uns aos outros, que discutiram sob todos os aspectos uma questão qualquer e que chegaram a uma decisão, escolhem um deles e o enviam para se entender com os outros delegados do mesmo gênero sobre este assunto especial. Então a escolha faz-se com pleno conhecimento de causa, sabendo cada um o que pode confiar ao seu representante. Esse representante não fará mais do que expor perante outros representantes as considerações que levaram os seus constituintes a tal ou tal conclusão. Não podendo impor nada, tentará a conciliação e voltará com uma simples proposta que os mandatários poderão aceitar ou recusar. Foi mesmo assim que nasceu a representação: quando as comunas enviaram os seus delegados às outras comunas não tinham outro mandato. É ainda assim que procedem os meteorologistas, os estatísticos nos seus congressos internacionais, os delegados das companhias de estrada de ferro e das administrações postais de diversos países.

Mas, o que se exige aos eleitores? - A dez, vinte, cem mil, que não se conhecem absolutamente, que não se vêem nunca, que se não encontram nunca tratando duma questão comum, pede-se-lhes que se entendam sobre a escolha de um homem. E assim é esse homem enviado para expor um assunto determinado, ou defender uma resolução relativa a uma questão especial? Não, ele deve servir para tudo, para legislar não importa sobre quê, e a sua decisão será lei. O caráter primitivo da delegação transformou-se inteiramente e tornou-se um verdadeiro absurdo.

Esse ser onisciente que hoje se procura não existe. Mas pode encontrar-se um cidadão honesto que reúna certas condições de probidade e de bom senso com alguma instrução. É esse que será eleito? Evidentemente que não. Há apenas vinte pessoas no seu círculo eleitoral que conhecem as suas excelentes qualidades. Nunca procurou a popularidade, despreza os meios usuais de fazer barulho em volta do seu nome, não alcançará mais do que 200 votos. Não chegará mesmo a ser candidato, nomeando-se para isso um advogado ou um jornalista, bom falador ou bom escrevinhador que irá para o parlamento com os seus hábitos do tribunal ou da redação e irá reforçar a carneirada do ministério ou da oposição.

Poderá ser ainda algum comerciante, envaidecido com a honra de ser deputado, e que não trepidará perante uma despesa de 10 000 francos para conquistar a notoriedade. E nos países onde os costumes são eminentemente democráticos como nos Estados Unidos, onde as comissões se constituem com extrema facilidade e contrabalançam a influência da fortuna, nomear-se-á o pior de todos, o político de profissão, o ser abjeto que é hoje a chaga da grande república, o homem que faz da política uma indústria e que a explora segundo os processos da grande indústria - publicidade e corrupção.

Transformai o sistema eleitoral como quiserdes: substitui o escrutínio por pequenos círculos, pelo escrutínio de lista, fazei as eleições em dois graus como na Suíça (eu falo das reuniões preparatórias) modificai-o quando puderdes, aplicai o sistema nas melhores condições de igualdade, - talhai e retalhai os colégios eleitorais - o vício intrínseco da instituição não terá com isso desaparecido. Aquele que souber conseguir a metade dos sufrágios (salvo muito raras exceções, nos partidos perseguidos), será sempre nulo, sem convicções - o homem que sabe contentar toda a gente.

É por isso que - Spencer o notou já - os parlamentos são geralmente tão mal compostos. A Câmara, diz ele, na sua Introdução, é sempre inferior à média do país, não só em consciência como em inteligência. Um país inteligente figura na sua representação como se não o fosse. Se se propusesse ser representado por idiotas não teria escolhido melhor. Quanto à probidade dos deputados, nós sabemos bem o que ela vale. Basta ler o que deles dizem os ex-ministros que o conheceram e apreciaram.

Que pena que não haja caravanas especiais, para que os eleitores pudessem ir ver a sua Câmara funcionar. Como eles ficariam enojados. Os antigos embebedavam os seus escravos para ensinarem aos filhos a aversão pela embriaguês. Parisienses, ide à Câmara ver os vossos representantes para aborrecerdes o governo representativo.

A esse montão de nulidades o povo confia todos os seus direitos, salvo o de os destituir de tempos a tempos e de nomear outros. Mas como a nova assembléia, nomeada segundo o mesmo sistema e encarregada da mesma missão, será tão má como a precedente, a grande massa acaba por se desinteressar da comédia e limita-se a algumas substituições de vez em quando, aceitando alguns candidatos novos que conseguem por qualquer motivo impor-se.

Mas se a eleição está já corroída de um vício de constituição, irreformável, que dizer da maneira como a assembléia cumpre o seu mandato? Refleti apenas um minuto e vereis bem depressa a inanidade da missão que lhe impusestes.

O vosso representante deverá emitir uma opinião, um voto, sobre toda a série variável até ao infinito, de questões que poderão surgir nessa formidável máquina, - o Estado centralizado.

Deverá votar o imposto sobre os cães e a reforma do ensino universitário, sem nunca ter posto os pés na Universidade e sabido o que é um cão de guarda. Deverá pronunciar-se sobre as vantagens da espingarda Grass e sobre o local a escolher para as cudelarias do Estado. Votará sobre a filoxera, o guano, o tabaco, o ensino primário e o saneamento das cidades; sobre a Cochinchina e a Guiana, sobre as chaminés e o observatório de Paris. Ele que não viu os soldados senão na parada, dividirá os corpos do exército, e sem nunca ter visto um árabe, vai fazer e desfazer o código muçulmano da Argélia. Votará a barretina ou quepi, segundo as predileções da esposa. Protegerá o açúcar e sacrificará o pão. Matará a vinha julgado protegê-la; votará a arborização contra a pastagem e protegerá a pastagem contra a floresta. Tratará a peito a questão dos bancos. Inutilizará um canal por causa de uma estrada de ferro, sem saber muito bem em que parte da França se encontra um e outro. Acrescentará novos artigos ao Código Penal, sem o ter nunca folheado. Proteu onisciente e onipotente, hoje militar, amanhã tratador de porcos, e sucessivamente banqueiro, acadêmico, limpador de canos, médico, astrônomo, fabricante de drogas, curtidos de peles ou negociante, segundo a ordem do dia da Câmara, não hesitará nunca. Habituado na função de advogado, de jornalista, ou de orador de reuniões públicas, a falar do que não conhece, votará sobre todas as questões, com a única diferença de que no seu jornal divertia o porteiro, no tribunal despertava os juízes e os jurados sonolentos e na Câmara a sua opinião será lei para trinta, quarenta milhões de habitantes.

E como lhe é materialmente impossível ter uma opinião sobre os mil assuntos em que o seu voto fará lei, passará o tempo a conversar com o vizinho do lado, ou a escrever cartas para aquecer o entusiasmo dos seus "queridos eleitores", enquanto o ministro estiver lendo um relatório cheio de algarismos dispostos para o caso pelo seu chefe de gabinete; e no momento do voto se pronunciará pró ou contra o relatório segundo o sinal do chefe do partido.

Assim uma questão de gorduras para porcos ou de equipamento para o soldado não será nos dois partidos de oposição senão uma questão de escaramuça parlamentar. Não quererão saber se os porcos terão necessidade das gorduras e se os soldados não estarão já sobrecarregados como camelos do deserto - a única questão que os interessa será saber se um voto afirmativo beneficia aos seu partido. A batalha parlamentar faz-se sobre as costas do soldado, do agricultor, do trabalhador industrial, no interesse do ministro ou da oposição.

Pobre Proudhon, eu calculo os seus dissabores quando teve a ingenuidade infantil, de entrar na Assembléia, de estudar a fundo cada uma das questões como ordem do dia. Levava ã tribuna algarismos, idéias - nem sequer o escutavam. As questões resolveram-se todas antes da sessão, por esta simples consideração: é útil, é prejudicial ao nosso partido? A contagem de votos está feita: os submissos são registrados, contados cuidadosamente. Os discursos não se pronunciam senão para efeito teatral; não se escutam senão quando têm valor artístico ou se prestam ao escândalo. Os ingênuos imaginam que Roumenstan, arrebatou a Câmara com a sua eloqüência, e Roumenstan no fim da sessão, estuda com os seus amigos a maneira como poderá realizar as promessas feitas para caçar os votos. A sua eloqüência não era mais do que uma cantata de ocasião, composta e pronunciada para divertir a galeria, para manter a sua popularidade com algumas frases empoladas.

"Caçar votos!" - Mas quem são esses que caçam votos, esses votos que fazem inclinar para um e para outro lado a balança parlamentar? Quem são esses que derrubam e erguem ministérios e que dotam o país com uma política de reação ou de aventuras exteriores? Quem decide entre o ministério e a oposição? - São os chamados "camaleões da política". Os que não têm opinião, os que se sentam sempre entre duas cadeiras, que vogam entre os dois partidos principais da Câmara.
É precisamente esse grupo - uns cinqüenta indiferentes, de gente sem convicção nenhuma, que se fazem de cataventos entre os liberais e os conservadores, que se deixam influenciar pelas promessas, os lugares, a lisonja ou o pânico, - esse pequeno grupo de nulidades, que dando ou recusando os seus votos, decide todas as questões do país. São eles que fazem as leis ou que as revogam. São eles que apóiam ou derrubam os ministérios e que mudam a direção da política. - Uns cinqüenta indiferentes ditando a lei do país, - eis a que se reduz o sistema parlamentar.

Isto é inevitável, seja qual for a composição do parlamento, embora ele esteja repleto de estrelas de primeira grandeza e de homens íntegros, - a deliberação pertencerá... aos camaleões! E assim será sempre enquanto for a maioria a fazer a lei.

Depois de termos indicado ligeiramente os vícios fundamentais das assembléias representativas, deveríamos agora mostrar essas assembléias funcionando. Deveríamos mostrar como todas, desde a Convenção até ao conselho da Comuna de 1871, desde o Parlamento inglês até ã Skoupchtchina sérvia, estão eivadas de nulidade; como as suas melhores leis têm sido apenas - segundo a expressão de Buckle - a abolição das leis anteriores, como essas leis têm sido arrancadas à força pelo povo, por meio insurrecionais. Seria uma grande história que ultrapassaria os limites deste capítulo.

Mas mesmo quem souber raciocinar sem se deixar sugestionar pelos preconceitos da nossa viciosa educação encontrará por si próprio muitos exemplos na história do governo representativo dos nossos dias. E compreenderá que, qualquer que seja o corpo representativo, seja ele composto por operários ou por burgueses, ou mesmo amplamente aberto aos socialistas-revolucionários - conservará todos os vícios das assembléias representativas.

Esses defeitos não dependem dos indivíduos, são inerentes à própria instituição.
Sonhar um Estado operário, governado por uma assembléia eleita é o pior dos sonhos que nos inspira a nossa educação autoritária.

Como se não pode ter um bom rei, nem em Rieuzi, nem em Alexandre III, assim se não pode ter um bom parlamento. O futuro socialista tem outra direção: ele abrirá à humanidade caminhos novos na ordem política, como na ordem econômica.

Parte IV

É principalmente observando a história do regime representativo, a sua origem e a maneira como a instituição se adulterou à medida que se desenvolveu o Estado, que nós compreendemos que ela deu já tudo o que tinha a dar, e que deve ceder o lugar a um novo molde de organização política.

Não precisamos ir muito longe; vejamos o século XII e a libertação das Comunas.

No meio da sociedade feudal produz-se um grande movimento libertário. As cidades libertam-se dos senhores. Os seus habitantes "juram" a defesa mútua; declaram-se independentes dentro das suas muralhas; organizam-se para a produção e a troca, para a indústria e o comércio; criam as suas cidades que durante três ou quatro séculos servem de refúgio ao trabalho livre, às artes, às idéias - que lançam os fundamentos dessa civilização que hoje nós glorificamos.

Longe de serem de origem puramente romana, como pretenderam Raynouard e Lebas em França (seguido por Guizot e, em parte, por Augusto Thierry), Eichhorn, Gaupp e Savigny na Alemanha; longe de serem de origem puramente germânica, como o afirma a escola brilhante dos "germanistas", as Comunas foram um produto natural da idade média e da importância sempre crescente dos burgos como centros de comércio e de indústria. É por isso que simultaneamente, na Itália, em Flandres, na Gália, na Germânia, no mundo Escandinavo e no mundo Eslavo, onde a influência romana é nula e a influência germânica insignificante, nós vemos afirmar-se pela mesma época, isto é, nos séculos XI e XII, essas cidades independentes que enchem três séculos com a sua vida movimentada e mais tarde se tornam os elementos constituídos dos Estados modernos.

Conjurações de burgueses que se armam para a defesa e criam no interior uma organização independente dos seus senhores temporais ou eclesiásticos, tanto como do rei, - as cidades livres florescem logo dentro dos seus muros; e embora procurem substituir-se ao senhor no domínio das aldeias, respiram o mesmo sopro de liberdade. Nus sumes homes cum il sunto, - "Nós somos homens como eles", cantam os aldeões caminhando para a libertação dos servos.

"Asilos abertos à vida de trabalho", as cidades libertadas constituem-se no interior como ligas de corporações independentes. Cada corporação tem a sua jurisdição, a sua administração, a sua milícia. Cada qual é livre, não só no que diz respeito ao seu trabalho ou a seu comércio, mas em tudo o que o Estado lhe atribui mais tarde: instrução, medidas sanitárias, infrações aos costumes, questões penais e civis, defesa militar. Corpos políticos, ao mesmo tempo industriais e comerciais, as corporações unem-se pelo fórum o povo reunido ao som dos sinos nas grandes ocasiões, ou para julgar os casos entre as corporações, ou para decidir questões relativas a toda a cidade, ou para se entenderem sobre os grandes empreendimentos comunais que exigiam o concurso de todos os habitantes.

Na Comuna, sobretudo no princípio - ponto de ligação com o governo representativo - a rua, a seção, toda a cidade, toma as deliberações, - não por maioria mas por discussão até que os partidários das duas opiniões opostas ou diferentes acabem por aceitar voluntariamente mesmo para experiência, a opinião do maior número.

Existia acordo? - A resposta está nas suas obras que nós não cessamos de admirar sem as podermos ultrapassar. Tudo o que ficou de belo do fim da idade média é obra dessas cidades. As catedrais, esses monumentos gigantescos que contam em pedra, a história, as aspirações das comunas, são a obra dessas corporações, trabalhando por piedade, por amor da arte e da cidade (não era como os fundos municipais que as catedrais de Reims, de Rouem, poderiam pagar-se) e rivalizando entre si na edificação das suas muralhas.

É às Comunas libertadas que nós devemos o renascimento da arte, é às corporações de mercadores, por vezes a todos os habitantes da cidade que contribuíam cada um com a sua parte para a organização, preparação e provisões de uma caravana ou de uma flotilha, que nós devemos esse desenvolvimento do comércio que deu depois as ligas hansiáticas e as descobertas marítimas. É às corporações industriais, estupidamente difamadas depois pela ignorância e egoísmo dos exploradores da indústria, que nós devemos a criação de quase todas as artes industriais cujos benefícios gozamos hoje.

Mas a Comuna da idade média tinha que perecer. Dois inimigos a atacavam ao mesmo tempo: o de dentro e o de fora.

O comércio, as guerras, a dominação egoísta sobre o campo contribuíram poderosamente para aumentar a desigualdade no seio da Comuna, para empobrecer uns e enriquecer outros. Durante algum tempo a corporação impediu o desenvolvimento do proletariado no seio da cidade, mas bem depressa ela sucumbiu na luta desigual. O comércio sustentado pela pilhagem, as guerras contínuas de que a história da época cheia, empobreciam as outras; a burguesia nascente trabalhava para fomentar a discórdia, para exagerar as desigualdades de fortuna. A cidade dividiu-se em ricos e pobres, em "brancos" e "negros"; começou a luta das classes e com ela o Estado no seio da Comuna. À medida que os pobres iam se tornando cada vez mais pobres, sujeitos cada vez mais aos ricos pela usura, ia-se estabelecendo na Comuna a representação municipal, o governo por procuração, isto é, o governo dos ricos. A Comuna constituía-se em Estado representativo, com cofre municipal, milícia mercenária, condottieri armados, serviços públicos, funcionários. Ela própria um Estado em ponto pequeno, não era natural que fosse absorvida pelo estado em ponto grande que se constituía sob os auspícios da realeza? Minada já no interior, foi na verdade absorvida pelo inimigo exterior - o rei.

Enquanto as cidades livres floresciam, constituía-se às suas portas o Estado centralizado.

Nasceu longe do ruído do fórum, longe do espírito municipal que inspirava as cidades independentes. É numa cidade nova, Paris, Moscou, - amontoado de aldeias, - que o poder nascente da realeza se consolidou. Que era então o rei? Um chefe de bando como os outros. Um chefe cujo poder se estendia apenas sobre o bando e que recebia o tributo dos que lhe queriam comprar a paz. Desde que, de simples defensor das muralhas tentava tornar-se senhor da cidade, o fórum o expulsava. Refugiou-se pois numa aglomeração, numa cidade nova. Aí, tirando a sua riqueza da exploração do trabalho dos servos, não encontrando obstáculos na plebe turbulenta, começou pelo dinheiro, pela fraude, pela intriga e pelas armas, o lento trabalho de aglomeração, de centralização, que as guerras da época, as invasões contínuas favoreciam, - direi mesmo que impunham, - simultaneamente a todas as nações européias, às Comunas já em decadência, Estados dentro dos seus muros, serviram-lhe de mira e de modelo. Tratava-se apenas de as englobar pouco a pouco, de lhe apropriar uns órgãos, de as fazer servir o desenvolvimento do poder real. Foi o que a realeza fez, primeiro com muitas precauções e astúcia e depois cada vez mais brutalmente à medida que sentia aumentarem as suas forças.

O direito escrito nascera já, ou melhor cultivava-se, nas cartas das Comunas. Serviu de base ao Estado. Mais tarde o direito romano dá-lhe a sua sanção, ao mesmo tempo que lhe dá a autoridade real. A teoria do poder imperial, desenterrada dos glossários romanos, propaga-se em benefício do rei. A Igreja, por seu lado, apressa-se a dar-lhe a sua benção, e depois de ter falhado na sua tentativa de construir um Império universal, concentra-se em volta daquele por intermédio do qual esperava reinar um dia sobre a terra.

Durante cinco séculos de realeza prosseguem esse lento trabalho de aglomeração, amotinando os servos e as Comunas contra o senhor, e mais tarde esmagando os servos e as Comunas com o auxílio do senhor, tornando-se seu fiel servidor. Começa lisongeando as Comunas mas espera que as lutas intestinas lhe abram as portas, lhe ponham à disposição os seus cofres de que ela se apodera e enche os mercenários. Procede contudo para com as Comunas com precaução: reconhece-lhes vários privilégios, quando as submete ao seu domínio.

Chefe dos soldados que não lhe obedecem se não quando ele lhes procura presa para saquearem, o rei esteve sempre rodeado de um conselho dos seus sub-chefes, que no século XIV e XV formam o seu conselho de Nobreza. Mais tarde, vem juntar-se a este conselho um conselho do clero. E à medida que o rei se vai apoderando das Comunas, convida a irem à sua corte, - sobretudo nas épocas críticas, - os representantes das suas "boas cidades", para lhes pedir subsídios.

Foi assim que nasceram os parlamentos. Mas, - notemos bem isso - esses corpos representativos, como a própria realeza, tinham um poder muito limitado. O que se lhes pedia era apenas um auxílio pelos delegados das cidades, ainda era preciso que elas o retificasse. Quanto à administração interior das Comunas, a realeza não tinha nada com isso. - "Tal cidade está pronta a dar-vos tal subsídio para repelir tal invasão. Consente em aceitar uma guarnição para servir de praça forte contra o inimigo", - tal era o mandato do representante da época. Que diferença do mandato ilimitado, compreendendo tudo o que há, que nós damos hoje aos nossos deputados.

O mal estava feito. Alimentada pelas lutas dos ricos com os pobres, a realeza constituira-se sob o pretexto da defesa nacional.

Mas bem depressa, vendo o desperdício dos seus subsídios à corte real, os representantes das Comunas procuram pôr-lhe termo. Impõem-se à realeza como administradores do tesouro nacional; e na Inglaterra, apoiados pela aristocracia, conseguem ser aceitos como tal. Na França, depois do desastre de Poitiers, estavam quase a arrogar-se esses direitos; mas Paris insurrecionada por Étienne Marcel é reduzida ao silêncio, ao mesmo tempo que a Jacquerie, e a realeza sai da luta com uma força nova.

Desde então tudo contribui para a concentração da realeza, para a centralização dos poderes na mão do rei. Os subsídios transformam-se em impostos e a burguesia apressa-se a pôr ao serviço do rei o seu espírito de ordem e administração. A decadência das Comunas, que sucumbem uma após outra perante o rei; a fraqueza dos camponeses reduzidos cada vez mais à servidão, econômica ou mesmo pessoal; as teorias do direito romano desenterrada pelos juristas; as guerras contínuas - fonte permanente de autoridade; - tudo favorece a consolidação do poder real. Herdeiro da organização comunal, apodera-se dela para se intrometer cada vez mais na vida dos seus súditos - de tal forma que no tempo de Luís XIV ele pôde exclamar: "o Estado sou eu"!

Desde então é a decadência, o envilecimento da autoridade, caindo nas mãos das cortesãs, procurando erguer-se sobre Luís XVI pelas medidas liberais do princípio do reinado, mas sucumbindo logo o peso das suas culpas.

O que faz a grande Revolução quando ataca a autoridade do rei?

O que tornou possível essa Revolução foi a desorganização do poder central, reduzido durante quatro anos à impotência absoluta, ao papel de simples registrador dos fatos consumados; é a ação espontânea das cidades e dos campos arrancando ao poder todas as suas atribuições, recusando-lhe o imposto e a obediência.

Mas a burguesia que tinha uma importância maior podia acomodar-se com este estado de coisas? Ela via o povo, depois de ter abolido os privilégios dos senhores, ia combater os da burguesia urbana e rústica, e procurou domina-lo. Para isso fez-se defensora do governo representativo e trabalhou durante quatro anos com toda força de ação e de organização que se lhe conhece, para incutir na nação esta idéia. O seu ideal era o de Étienne Marcel: um rei que, em teoria, está investido dum poder absoluto, mas que na realidade se acha reduzido a zero por um parlamento, composto evidentemente pelos representantes da burguesia. A onipotência da burguesia pelo parlamento, encoberta pela realeza - eis o seu fim. Se o povo lhe impõe a República é contra a vontade que ela a aceita, e dela procura desembaraçar-se o mais depressa possível.

Atacar o poder central, despojá-lo das suas atribuições, descentralizar, pulverizar o poder seria confiar ao povo os seus negócios, seria correr o risco duma revolução verdadeiramente popular. É por isso que a burguesia procura reforçar cada vez mais o poder central, investi-lo de poderes em que o próprio rei não ousa pensar, a concentrar tudo nele, a submeter-lhe tudo duma ponta a outra da França - e depois apoderar-se de tudo pela Assembléia Nacional.

Este ideal do jacobino é ainda hoje o ideal da burguesia de todas as nações européias, e o governo representativo é a sua arma.

Pode ser este o nosso ideal? Os trabalhadores socialistas podem pensar em seguir, nos mesmos termos, a revolução burguesa? Podem pensar em reforçar por sua vez, o governo central entregando-lhe o domínio econômico, e confiar a direção de todas as questões políticas, econômicas, sociais, ao governo representativo? O que foi um compromisso entre a realeza e a burguesia deve ser o ideal do trabalhador socialista?

Evidentemente que não.

A uma nova fase econômica corresponde uma nova fase política. Uma revolução tão profunda como a que imaginam os socialistas não podia adaptar-se à vida política do passado. Uma sociedade nova, baseada na igualdade de condições, na posse coletiva dos instrumentos de trabalho, não poderia contentar-se, mesmo oito dias que fosse, com o regime representativo, nem com nenhuma das modificações com que procurassem galvanizar esse cadáver.

Esse regime já caducou. O seu desaparecimento é tão inevitável hoje como o foi outrora o seu aparecimento. Corresponde ao domínio da burguesia. É por esse regime que a burguesia impera há um século e terá de desaparecer com ele. Quanto a nós, se queremos a revolução social, devemos procurar o modo de organização política que corresponda ao novo modo de organização econômica.
Esse modo está já traçado. É a formação, do simples para o complexo, de grupos que se constituem livremente para a satisfação de todas as múltiplas necessidades dos indivíduos nas sociedades.

As sociedades modernas vão já nesse caminho. Em toda a parte o agrupamento livre, a livre federação procura substituir a obediência passiva; contam-se já em dezenas de milhões. Esses grupos livres e novos surgem todos os dias. Estendem-se e começam já a cobrir todos os ramos de atividade humana; ciências, artes, indústria, comércio, socorros, mesmo defesa do território e seguro contra o roubo e os tribunais - nada lhes escapa, vão-se estendendo cada vez mais e hão de acabar por abranger tudo o que o rei e o parlamento se arrogavam.

O futuro é do livre agrupamento dos interessados e não da centralização governamental - é da liberdade e não da autoridade.

Mas antes de esboçar o que surgiria do livre agrupamento, devemos ainda combater muitos preconceitos políticos de que todos estamos embuídos e é o que vamos fazer nos próximos estudos.